sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Frase - Dom Quixote

A liberdade, Sancho, é um dos dons mais preciosos, que aos homens deram os céus: não se lhe podem igualar os tesouros que há na terra, nem os que o mar encobre; pela liberdade, da mesma forma que pela honra, se deve arriscar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pode acudir aos homens.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Frase - Anais Nin

"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido amniótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o clímax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Frase - Ariano Suassuna

A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Minhas primaveras - Mestre Fuleiro

São tantas
Tantas foram as primaveras
Que por mim já passaram
Nesses meus cabelos brancos
É fácil de calcular
Amar, amei bastante, até demais
Quando fui Guapo rapaz
Gozei o que pude gozar
Só me resta agora recordar
Quem viver a vida que vivi
Certamente há de recordar
Amar, amei
Sambar, sambei
Tantas belas coisas desfrutei.

Rolleiflex


Ela - Ana Paula Farias

“Não devemos julgar a vida dos outros, porque cada um de nós sabe de sua própria dor e renúncia. Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que seu caminho é o único.” (autoria desconhecida)

Ela sabe dela. Sabe que é intensa.
Ela fala, escreve, expressa, sente, chora, ri, pensa, sonha, acredita, deseja...
Sabe que essa intensidade vem de sua essência e já lhe trouxe lágrimas e sorrisos...
Ela sabe de seus medos e de como eles lhe fazem tentar mudar os caminhos.
Ela não tem todas as certezas...mas sabe que “viver” sempre vale a pena.
Sabe que pode ser diferente, mas ainda será ela.
Ela acha que o caminho dela é certo...mas sabe que não é o único.

Ela não sabe dele. Não conhece a essência dele, seus medos, receios, anseios, sua história...não conhece seus sonhos. Não o conhece. Ela não conhece o caminho dele...são caminhos silenciosos. Ela conhece dele o abraço...
Ele provavelmente acha que o caminho dele é certo...ela não sabe se ele acha que o caminho dele é único.

Ele é um bom homem. Ela sabe que é uma boa mulher.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Paulo Freire - Marcelo Centenaro

 Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire
 
 No final de 2014, conversei sobre Paulo Freire com uma pessoa de quem gosto muito e que tem opiniões opostas às minhas. Ela perguntou se eu tinha lido algum dos livros dele. Só A Importância do Ato de Ler, mas há tanto tempo que não me lembro de quase nada, respondi. Nunca li Pedagogia do Oprimido, confessei. Você não pode criticar o que não conhece, acusou ela. Prometi que leria Pedagogia do Oprimido e escreveria uma resenha. Aqui está.

Não é uma leitura fácil. Embora o livro não seja extenso, com pouco mais de 100 páginas, levei dois meses para terminar. Achei a linguagem confusa, com termos inventados ou palavras às quais o autor atribui um sentido peculiar, sem contudo definir claramente esse sentido. Muitas vezes, não há um encadeamento lógico entre um parágrafo e o seguinte, entre uma frase e a próxima, entre uma idéia e outra. Nesse aspecto, lembra muito o estilo do Alcorão. Paulo Freire tem um cacoete de separar os prefixos dos radicais das palavras (co-laboração, ad-mirar, re-criar), como se isso significasse alguma coisa. Há muitas passagens com sentido obscuro (vejam algumas abaixo), muitas repetições, citações de supostas autoridades em educação (como Mao, Lênin, Che, Fidel e Frantz Fanon) e menções freqüentes a que se vai voltar ao assunto depois ou a que já se tratou dele antes.

Logo na introdução, somos brindados com esta afirmação: “Se a sectarização, como afirmamos, é o próprio do reacionário, a radicalização é o próprio do revolucionário. Dai que a pedagogia do oprimido, que implica numa tarefa radical cujas linhas introdutórias pretendemos apresentar neste ensaio e a própria leitura deste texto não possam ser realizadas por sectários.” Minha leitura deste trecho é: “Só quem já concorda comigo pode ler o que escrevo.”

Vou apresentar a seguir o que entendi do livro, procurando ao máximo omitir minhas opiniões, que guardarei para o final da resenha.

Paulo Freire descreve dois tipos de educação, uma característica de uma sociedade opressora, outra característica de uma sociedade livre, ou que luta para se libertar. A educação da sociedade opressora é chamada de “bancária”, sempre entre aspas, porque ela deposita conhecimentos nos alunos. Ou seja, ela reduz o aluno a um objeto passivo do processo educacional, no qual são jogadas informações sobre Português, Matemática, História, Geografia, Inglês, Física, Química, Biologia, Filosofia. Já a educação libertadora é chamada de dialógica, porque se baseia no diálogo entre professores e alunos (educadores e educandos, na linguagem do livro). É um processo do qual todos são sujeitos ativos e cuja finalidade é ampliar a consciência social de todos, especialmente dos alunos, para que se viabilize a revolução que acabará com a opressão. O livro não detalha o que a educação libertadora fará depois dessa libertação. Imaginamos que mantenha os educandos conscientes e imunes a movimentos reacionários e contra-revolucionários.

A educação dialógica se baseia no diálogo e o diálogo começa com a busca do conteúdo programático. Na parte do livro em que há mais orientações práticas, Paulo Freire recomenda que seja formado um grupo de educadores pesquisadores que observará os educandos e conversará com eles, em situações diversas, para conhecer sua realidade e identificar o que ele chama de temas geradores, que possibilitarão a tomada de consciência dos indivíduos. Haverá reuniões com a comunidade, identificação de voluntários, conversas e visitas para compreender a realidade, observações e anotações. Os investigadores farão um diagnóstico da situação. Então discutirão esse diagnóstico com membros da comunidade para avaliar o grau de consciência deles. Constatando que esse nível é baixo, vão apresentar as situações identificadas aos alunos, para discussão e reflexão, com o objetivo de despertar sua consciência para sua situação de opressão. Se o pensamento do povo é mágico (religioso) ou ingênuo (acredita nos valores de direita), isso será superado pelo processo, conforme o povo pensar sobre a maneira que pensa, e conforme agir para mudar sua situação de opressão.

Paulo Freire enfatiza que o revolucionário não pode manipular os educandos. Todo o processo tem de ser construído baseado no diálogo e no respeito entre os líderes e o povo. Porém, os líderes devem ter a prudência de não confiar no povo, porque as pessoas oprimidas têm a opressão inculcada no seu ser. Como exemplo de um líder que jamais permitiu que seu povo fosse manipulado, Paulo Freire apresenta Fidel Castro.

A palavra é o resultado da soma de ação e reflexão. Se nos baseamos apenas na reflexão, temos um “verbalismo” estéril. Se nos baseamos apenas na ação, temos um “ativismo” inepto. Os líderes revolucionários e os educadores devem compreender que a ação e a reflexão caminham juntas de maneira indissociável, ou não se atingem os objetivos da educação e da revolução.

As características da opressão são a conquista dos mais fracos, a criação de divisões artificiais entre os oprimidos para enfraquecê-los, a manipulação das massas e a invasão cultural. Os opressores se impõem em primeiro lugar pela força. Depois, jogam os oprimidos uns contra os outros, para mantê-los subjugados. As pessoas são manipuladas para acreditarem em falsos valores que lhes são prejudiciais, embora elas não percebam isso. Sua cultura de raiz é esquecida e trocada por símbolos vazios importados de fora, num processo que esmaga a identidade do povo.

As características da libertação são a colaboração (que Paulo Freire grafa co-laboração), a união, a organização e a síntese cultural. A colaboração está contida em tudo o que foi dito sobre educação dialógica, que é feita em conjunto pelos educadores e educandos. A união entre os oprimidos é fundamental para que tenham força para resistir contra o opressor. No trecho em que explica a organização, é citado o médico Dr. Orlando Aguirre, diretor da Faculdade de Medicina de uma universidade cubana, que afirmou que a revolução implica em três P: palavra, povo e pólvora. Disse o Dr. Aguirre: “A explosão da pólvora aclara a visualização que tem o povo de sua situação concreta, em busca, na ação, de sua libertação.” E Paulo Freire complementa: “O fato de não ter a liderança o direito de impor arbitrariamente sua palavra não significa dever assumir uma posição liberalista, que levaria as massas à licenciosidade.” Ele afirma que não existe liberdade sem autoridade. Sobre a síntese cultural, diz que a visão de mundo do povo precisa ser valorizada.

Agora, o que penso sobre o texto. O próprio Paulo Freire deixa claro em vários momentos, que seu livro não é sobre educação. Ensinar, transmitir conhecimentos, é uma preocupação da educação “bancária” opressora. Não é essa a função de um educador libertador. Não, sua função é criar os meios para uma revolução libertadora, como foram libertadoras as revoluções promovidas pelos educadores citados: Mao, Lênin, Fidel. Ou seja, a única preocupação do livro é com os meios para viabilizar uma revolução marxista. Se você, meu leitor, é professor e acha que essa é a sua função, talvez encontre conhecimentos úteis no livro. Caso contrário, não há mais nada nele.

Fiz uma coletânea de palavras utilizadas por Paulo Freire que poderiam ter saído de um discurso de Odorico Paraguaçu: “involucra”, em lugar de envolve, “implicitados”, em lugar de implícitos, “gregarizadas”, deve ser um derivado de gregário, “unidade epocal”, em lugar de unidade de tempo, “fatalistamente”, por fatalisticamente, “insertado”, por inserido. Dois erros divertidos: chamar Régis Debray de Régis Debret e achar que o nome do padre Marie-Dominique Chenu OP (onde OP significa Ordo Praedicatorum, Ordem dos Pregadores, sigla que designa a Ordem dos Dominicanos) é O. P. Chenu. É sintomático que alguém com tantas dificuldades com a Língua Portuguesa seja o Patrono da Educação Brasileira, considerado nossa maior autoridade em alfabetização.

Desafio os bravos leitores a encontrar o sentido dos trechos a seguir. A melhor interpretação ganhará um pão com mortadela. Os grifos são de Paulo Freire.

1) «Na verdade, não há eu que se constitua sem um não-eu. Por sua vez, o não-eu constituinte do eu se constitui na constituição do eu constituído. Desta forma, o mundo constituinte da consciência se torna mundo da consciência, um percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. Daí, a afirmação de Sartre, anteriormente citada: “consciência e mundo se dão ao mesmo tempo”.»

2) «O ponto de partida deste movimento está nos homens mesmos. Mas, como não há homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relações homens-mundo. Dai que este ponto de partida esteja sempre nos homens no seu aqui e no seu agora que constituem a situação em que se encontram ora imersos, ora emersos, ora insertados.»

3) «Sem ele [o diálogo], não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os mediatiza.»

4) «Esta é a razão pela qual o animal não animaliza seu contorno para animalizar-se, nem tampouco se desanimaliza.»

5) «Somente na medida em que os produtos que resultam da atividade do ser “não pertençam a seus corpos físicos”, ainda que recebam o seu selo, darão surgimento à dimensão significativa do contexto que, assim, se faz mundo.»

6) «Porque, ao contrário do animal, os homens podem tridimensionalizar o tempo (passado-presente-futuro) que, contudo, não são departamentos estanques.» Alguém pode me dizer como é possível tridimensionalizar o tempo?

7) «Uma unidade epocal se caracteriza pelo conjunto de idéias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores, desafios, em interação dialética com seus contrários, buscando plenitude. A representação concreta de muitas destas idéias, destes valores, destas concepções e esperanças, como também os obstáculos ao ser mais dos homens, constituem os temas da época.»

Outra característica curiosa são as citações em idiomas diversos. Há citações de Hegel e Karl Jaspers em inglês, de Marx e Erich Fromm em espanhol e de Lukács em francês. Todos esses autores escreveram em alemão. Frantz Fanon, que escreveu em francês, é citado em espanhol. Albert Memmi, que também escreveu em francês, é citado em inglês, e se menciona que há uma edição brasileira de seu livro. Mao é citado em francês. Porque todas essas citações não foram simplesmente traduzidas para o português? E por que Paulo Freire gosta tanto de ditadores, torturadores e assassinos?

Ele afirma que vender seu trabalho é sempre o mesmo que escravizar-se. Porém, desejar não ser mais empregado e tornar-se patrão é escravizar a um outro, tornar-se opressor. Qualquer tipo de contratação de um indivíduo por outro é maligna, é opressão, é escravidão. Só teremos liberdade quando a nenhum indivíduo for permitido contratar ou ser contratado por outro indivíduo. Faz sentido para vocês?

Paulo Freire afirma que os oprimidos devem ser reconhecidos como Pedro, Antônio, Josefa, mas os chama o tempo todo de “massas”. Diz que valoriza a visão de mundo do povo, enquanto não perde uma oportunidade de desdenhar das crenças religiosas desse mesmo povo, chamando-as de mágicas, sincréticas ou mistificações. E ele se dizia católico.

Como a opressão é uma violência, qualquer violência cometida pelos oprimidos contra os opressores é sempre uma reação justificada. É um raciocínio assustador. Nas palavras dele: “Quem inaugura a tirania não são os tiranizados, mas os tiranos. Quem inaugura o ódio não são os odiados, mas os que primeiro odiaram. Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram a sua humanidade negada, mas as que a negaram, negando também a sua.” Paulo Freire considera justificados a tirania como resposta a uma tirania anterior e o ódio como resposta a um ódio anterior. E nega a humanidade de quem ele resolver chamar de opressores.

Mais um trecho escabroso: «Mas, o que ocorre, ainda quando a superação da contradição se faça em termos autênticos, com a instalação de uma nova situação concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se libertam, é que os opressores de ontem não se reconheçam em libertação. Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos. É que, para eles, “formados” na experiência de opressores, tudo o que não seja o seu direito antigo de oprimir, significa opressão a eles. Vão sentir-se, agora, na nova situação, como oprimidos porque, se antes podiam comer, vestir, calçar, educar-se, passear, ouvir Beethoven, enquanto milhões não comiam, não calçavam, não vestiam, não estudavam nem tampouco passeavam, quanto mais podiam ouvir Beethoven, qualquer restrição a tudo isto, em nome do direito de todos, lhes parece uma profunda violência a seu direito de pessoa. Direito de pessoa que, na situação anterior, não respeitavam nos milhões de pessoas que sofriam e morriam de fome, de dor, de tristeza, de desesperança.»

O fato é que ninguém pode proibir ninguém de comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven. E ninguém pode exigir comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven às custas dos outros.

Uma última citação abjeta: “Mesmo que haja – e explicavelmente – por parte dos oprimidos, que sempre estiveram submetidos a um regime de espoliação, na luta revolucionária, uma dimensão revanchista, isto não significa que a revolução deva esgotar-se nela.” A revolução não deve se esgotar no revanchismo, mas o revanchismo é parte natural dela. Como alguém que escreveu essas monstruosidades nunca foi processado por incitação à violência e apologia do crime? Como alguém com um pensamento tão anti-social pode ser sequer ouvido, quanto mais cultuado como Patrono da Educação Brasileira?

Chega de doutrinação marxista! Fora Paulo Freire!

Fonte:http://marcelocentenaro.blogspot.com/2015/03/pedagogia-do-oprimido-de-paulo-freire.html

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Dicionário - Aleivosia

substantivo feminino

    1.
    traição ou crime cometido com falsas demonstrações de amizade; perfídia, deslealdade.
    2.
    qualidade de quem engana, atraiçoa; dolo, fraude.

Frase - Thomas Sowell

"O racismo ainda não morreu, mas está respirando por aparelhos. Só é mantido vivo por políticos, aproveitadores raciais e pessoas que se sentem superiores por rotular outras de racistas".

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Frase - Alessandro Brito

Então ela olhou nos meus olhos e disse:
“-Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”.
Minha mente gritava:
Então por que você sempre me deixa ir? Por que você não segura minha mão e enfrenta tudo, juntos? Por que é tão mais fácil me deixar e tentar seguir em frente? Por que não fica?
Mas a única coisa que fiz foi sorrir.
Quero minha armadura de volta, minha cama, meus livros, quero tudo!

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Frase - Charles Bukowski

Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O “Adeus” de Teresa - Castro Alves

A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”

Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos sec’los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
… Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei! descansa!. . . ”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

A música - Charles Baudelaire (in "As Flores do Mal")

A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera!



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Covardia - Alessandro Brito

Foi pura covardia! Triste do ser humano que carrega em suas costas o peso da covardia.
Esse peso ironicamente é como o vento, suave, mas frio e implacável, talvez seja como a fé, não se pode ver, mas pesa toneladas nas costas de quem a carrega.

Os papéis assinados me deram a falsa ilusão de que tudo ficaria bem, sua gentileza foi covarde do início ao fim, premeditada e egoísta ela seduzia-me, mas sua postura quando comparada aos outros casais ao nosso redor, parecia ingênua. Você soube articular bem a redoma que me cobriu e impediu-me de respirar enterrando-me em vida, ferindo-me sem ser ríspido. Fez-me sentir nula, fui constrangedoramente feliz para a sociedade,  nos nossos aniversários, nos aniversários do nosso filho, motivada pela esperança de viver os sonhos vendidos nas assinaturas dos papéis.
Não pude ao menos me retirar da sala, nem reclamar das suas horas em frente a televisão, não tivemos uma sala, não pude reclamar da toalha molhada em cima da cama, ou dos tênis e meias espalhados no quarto, não tivemos um quarto, não pude sorrir pra você na cozinha enquanto dividíamos as tarefas do jantar ou o lanche na madruga depois do sexo, não tivemos uma cozinha, não tivemos uma casa nem moramos juntos, no final do feriado íamos cada qual pra casa dos nossos respectivos pais.
Não foi possível gestar a intimidade, a verdade é que nós abortamos a felicidade no único ano que moramos no mesmo teto, o primeiro ano. Eu não tive coragem de levantar a cabeça olhar no espelho e aceitar que fiz um aborto, o da minha própria felicidade.
Ainda sim a ti me dediquei, fui honesta, fiel, passei noites procurando o que havia de errado em mim que te fazia me colocar naquela condição de esposa que mora na casa da mãe, não entendo sua motivação em agir assim, não assumir a mim ao nosso filho, tive noites infinitas, longas como toda espera daquele que ama, na maioria delas consegui engolir o choro e as palavras, nas outras senti meus olhos arderem, pois só eles tiveram coragem de gritar, eu não. Agora percebo que também fui covarde. Como poderia julgá-lo?
Você me tratou com muito carinho e cordialidade, isso foi muito, muito pouco perto do que mereço. Inevitavelmente nesses milhares de dias passados você foi desaparecendo lentamente dentro de mim, deixando apenas sua réstia, sobras de atenção que eu ainda me apegava. O paradoxo entre sacrifício e covardia aliado a proposta do amor eterno me fez sobrepujar todos os obstáculo, até aqui! Não o amo mais como homem, o sentimento se transformou, nossos nomes deixaram de ter o mesmo sobrenome, você é o pai do meu filho, apenas.
Esse sentimento não é meu e essa história não é a minha, mas poderia ter sido.

P.S.: Um homem que não se dedica a família, nunca será um homem de verdade. Don Vito Corleone

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Solidão - Francisco Buarque de Holanda

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma....

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Lapso - Rancho da Goiabada

"A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida", é poetinha minhas vivências me fazem repetir incansavelmente essa frase, obrigado!
Um casal (sem a hipocrisia medíocre habitual dos que fingem ser casais), um convite, um lar, dois radicados, samba!
Sábado a noite estava marcada uma reunião de colegas para cantar uns sambinhas... raramente fico doente, mas eu estava febril, sentindo aqueles calafrios cabulosos (que arrepiam até os pelos das orelhas)... Tomei um banho, coloquei aquele moletom maroto de capuz, e fui, ficar em casa sozinho rachando de febre não era a melhor opção, até ae sem novidades!
Cheguei na casa desse casal... aquela casa com um puta recuo, ou seja, um quintal "bitelão", uma hortinha marota... Ele de BH ela de SP... radicados há 3 anos em campina grande, cidade boa.
Alguns (vários, rs) tragos de cachaça e um casal de repertório enfezado, confesso que fiquei surpreso!
O anfitrião, mano Tiago Perdigão, com seu pinho no peito rememorando várias musguinhas que "a gente gosta" cantou "Favela - Padeirinho" que música linda, mas é um samba de terreiro e que eu nunca (em 6 anos em campina grande) tinha visto alguém cantar, confesso que fiquei emocionado, e assim prosseguiram as surpresas, entramos no repertório do Geraldo Filme, outro gênio, pouco conhecido e valorizado, e meus zoinhos brilhavam, até arrisquei cantar (os anfitriões,que estão nessa lista, me desculpem eu definitivamente não sei cantar rs) mas eu estava tão a vontade, me sentindo em casa...
O ápice da noite foi quando o mano Perdigão cantou uma musga que "abalou bangu", simplesmente bagunçou meu coreto.
Essa canção que o mano Perdigão cantou foi-me apresentada em 1992 (estava com 9 anos) pela professora Nilza, ela não apresentou apenas, mas nos fez interpretar a musga. Ah, como sou grato!
Quer dizer, na verdade, foram duas musgas mas a primeira que ela passou o exercício de interpretação eu devia ter algum compromisso inadiável, porque eu faltei rs, era "Pau de arara'. Mas pra minha sorte na segunda eu estava lá, junto com o Chandela (que também está aqui na lista 😍). Foi incrível a viagem nas nossas cabecinhas férteis, fala ae Chandela!
Em seguida eu pedi que ela me gravasse um K7, dois dias depois ele me presenteou e foi a a responsável direta por eu me interessar por MPB. Eu nunca descobri quais eram as musgas daquele K7, exceto a primeira, que eu escutava, ouvia e voltava a fita K7 com a bic, e escutava e ouvia incansavelmente... não necessariamente nessa ordem, rs. A musga do K7 era construção... E eu construia e reconstruia aquela viagem quase que psicodélica da letra, poxa numa mente de 9 anos, aquela era fonte de inspiração pra "fantástico mundo de Bob" nenhum por defeito. mesmo eu não entendo nada, mas ela apresenta muitos elementos imagináveis.
Nas voltas que a vida dá, a professora Nilza que ainda morou na rua da escola por anos, foi traída pelo marido, entrou em depressão... Anos mais tarde, saindo do curso de computação (informática rs) encontro ela no prédio... Claro que eu a abordei, rs, e ela lembrou-se de mim e de outros amiguinhos, inclusive o Chandela 😊.
Na outra semana, eu já havia ensaiado em casa, e fiz questão de contar pra ela o quanto ela fora importante na minha formação, o quanto aquela interpretação e aquele K7 foi um divisor de águas na minha vida... Infelizmente não posso transmitir pra vocês em palavras as lágrimas que ela deixou rolar com um sorrisão lindo...
P.S.: Um dia no refeitório da escola, comendo polenta com carne moída, o Chandela me chamou a atenção porque eu estava com os cotovelos na mesa, e não podia. rs Acreditem se quiser, naquela escola pública padrão, essa mesma professora nos dava aula de etiqueta. Tínhamos um caderninho com essas lições. Eu o Chandela e outros amiguinhos, nessa época morávamos em barraco de madeira, essa mulher foi mesmo muito importante. Até hoje eu finjo que sou educado me valendo de várias lições que ela deu.
Rancho da goiabada é a musga em questão!
Essa musga conta muito das coisas que eu via meu pai fazendo e vivendo, é óbvio que na época eu não tinha essa leitura da situação neh, mas eu gostava dos vários elementos dela, mas hoje ela me comove imensamente justamente por conseguir enxergar que meu pai era um dos personagens daquela musga, um flagelado retirante nordestino no inicio dos anos 90, analfabeto, descriminado, sobrevivendo de biscates e tentando dar para o filho tudo o que seu pai não deu, principalmente carinho.

Os bóias-frias
Quando tomam umas biritas
Espantando a tristeza,
Sonham com bife-a-cavalo, batata-frita
E a sobremesa
É goiabada cascão com muito queijo,
Depois café, cigarro e um beijo
De uma mulata chamada
Leonor ou Dagmar...

Amar
O rádio de pilha, o fogão jacaré, a marmita, o domingo
O bar
Onde tantos iguais se reúnem e contando mentiras
Pra poder suportar...

Ai, são pais-de-santo, paus-de-araras são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados,
Dançando dormindo de olhos abertos à sombra
Da alegoria dos faraós embalsamados

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Lapso - Duvida (Augusto Calheiros)

Certa vez, estava passando o fds no RJ com uma colega, e naquele sábado havíamos feito uma programações diferentes. No início da noite eu sentei em um bar ao lado do Flat (Meu colega Sebah, estava em SP e deixou a chave do Flat na portaria rs) que estávamos hospedados. Era no foco da dengue, no  centro do meio do miolo da Lapa, ali, na rua da Polícia Federal na Rodrigues Alves. Minha colega ligou pedido pra eu esperar para subirmos juntos pro ap, então pedi uma cachaça e fiquei aguardando-a. Comecei ouvir alguém cantarolando baixinho lindamente, uma afinação absurda, um timbre daqueles que hoje em dia não se tem mais, de gente velha mesmo. Puxei minha cadeira mais pra perto da mesa atrás de mim... O som ficou um pouquinho mais nítido, mas ainda sim baixinho... Não resisti e me virei pra ver a cara do cidadão que cantavam aquele samba canção, quando me viro, me deparo com aquele senhorzinho de narigão e orelhão (dizem que esses dois orgãos não param de crescer por conta da cartilagem
Pedi Errei, erramos... Ele com um o sorrisão disse que essa ele conhecia, rs
A Amanda chegou, eu dei a chave e falei que subiria só mais tarde... Fiquei um pouco mais de uma hora escutando aquela graça de ser humano cantar sambas canções lindos... Ah que voz linda...
Fiz um pedido especial, eu na minha arrogância achei que ele não saberia cantar, ele sempre sorrindo começou a cantar, é a na segunda parte ele parecia ter adivinhado que eu achava que ele não saberia, porque ele interrompeu e disse: Achou que eu não ia lembrar ne!? (Sabedoria é pra quem tem, não pra quem quer ou acha que tem).
Apesar dele morar na rua de trás de onde eu estava hospedado aquele fds eu não o vi mais, ele não usava whatsapp, rs.
Bom, como vocês bem sabem é óbvio que tirei uma foto com ele neh!
E a musga de hoje é a que ele me pegou no pulo do gato.
que não se ossifica neh!?) e um sorriso lindo, uma energia absurda, me senti tão confortável que não resisti, perguntei se ela cantaria uma música, ele simpaticamente respondeu que se soubesse... rs

Não sei por que razão
Tu tens ciúmes.
Não sei por que razão
Não crês em mim

Se sabes que te quero
Que o meu amor
É tão sincero
É demais duvidar tanto assim!
Ai de mim!

Não sei por que razão
Tu tens ciúmes.
Não sei por que razão
Não crês em mim!

Bem vês
Que vivo escravizado
E preso ao teu encanto!
Não deves duvidar assim
De quem te adora tanto!
Não deves duvidar de mim
Porque não tens razão!
Assim torturas sem querer
Meu coração!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

A Traição das Elegantes - Rubem Braga

Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.


Do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 112

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Lapso - Seca no nordeste

A região do semi-árido brasileiro que tem apenas 982.566,3 km2 (composto pelos sertões da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas, Ceará, Piauí, Bahia e o norte de Minas Gerais) AINDA PADECE COM AS SECAS. Mas, por pura negligência política. Essa miséria garante o voto de cabresto. "É a vida como ela é" já nos ensinou Nelson Rodrigues.

Na nossa primeira viagem no nordeste (2015) o Luan tinha acabado de ler o livro Padre Cícero - Poder, fé e Guerra no sertão (Lira Neto) e fez questão de querer conhecer a estátua do "Padim Ciço" no Juazeiro do Norte, Ceará. A distância de Campina Grande para Juazeiro é de 475 Km, mas existem inúmeros trechos que não é pista (BR) passam por dentro de cidadezinhas e vilarejos. Saímos (de carro) de CG as 10:30 e chegamos na colina do Horto (onde fica a estátua) as 17:30hs. Não havia ninguém, afinal que idiota chega naquele lugar na hora do por do sol? Enfim, ficamos meia hora, tiramos aquele velho retrato (pra não passarmos por mentirosos, rs) e voltamos pra cidade. Jantamos e voltamos, saímos do Juazeiro as 19:30 hs e chegamos em CG as 02:30 hs. Sinceramente, inenarrável tudo que vimos na estrada...
Na sequência Luan voltou pra SP e discutindo a respeito do que aprendemos na viagem chegamos a conclusão: O sertão é o caldeirão do diabo! Depois de outras viagens nos pergutamos o que poderíamos fazer para ajudar de alguma forma alguém do sertão. Decidimos que iríamos cavar um poço em algum sitio desses bem distantes, pra que, ao menos, em algum perímetro daquele braseiro sem fim, algumas pessoas pudessem se beneficiar. Fiz a cotação, R$ 3.000,00 por 100 metros... Normalmente encontra-se água após 300 metros (mas não é garantido, são probabilidades)... Não foi possível!
Um sertanejo não precisa de esmola do governo, eles precisam de condições, por lá, um trator da prefeitura para arar a Terra (o resto fazem na enxada) e um poço ou barragem seria suficiente pras aspirações de vida e retomada da "dignidade" daquela gente, mas como manter o voto de cabresto sem "assistencialismo"?

Gonzaga em 70 cantou:
"Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage."

Ó sol!
sol escaldante
Terra poeirenta
Dias e dias, meses e meses sem chover
E o pobre lavrador com a ferramenta rude
Dá corte no solo duro
Em cada pancada parece gemer
Hum, hum, hum, hum, hum, hum, hum, hum
Geme a terra de dor ô ô ô ô
Não adianta o meu lamento meu Senhor
Õ õ Õ õ E a chuva não vem
O Chão continua seco e poeirento
No auge do desespero uns se revoltan contra Deus
Outros rezam com fervor
Nosso gado está sedento meu Senhor
Nos livrai dessa desgraça
O céu escurece
As nuvens parecem grandes rolos de fumaça
Chove no coração do Brasil
E o lavrador retira o seu chapéu
E olhando o firmamento
Suas lágrimas se unem
Com as dádivas do céu
O gado muge de alegria
Parece entoar uma linda melodia.




quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Lapso - Amado Batista

Meu muso inspirador 2 (Primeiro é o Rei Waldick Soriano óbvio, Roberto Carlos é o 5 MINHA lista).

Um sonho? Ir no show do Amado 😍

1992/93 sentava eu e o Josivam em cima do barraco (na viga das telhas brasilit) e escutava Amado Batista por horas.

O Pai do Josivam, saudoso Zé Preto (um dos melhores amigos do meu coroa) fez um bar (de migué, de noite rolava uma jogatina pesada de baralho) na casa dele, e a vitrola rodava quase que 24 hs...

Eu tinha uns 10 anos, lembro que pegava o jornal escondido no bar e me perguntava 2 coisas:
1- Pra que tinha jornal ali se os caras eram todos analfabetos 😅
2- Caraleoooo como que preenche essa porra (palavras cruzadas), uma vez perguntei pro Zé Preto que disse que não sabia ler. Kkkkkkkk

Era um tempo de muita inocência pra mim, sinto saudade.

Uma das poesias mais lindas do cancioneiro brasileiro. É, não é erudita, mas é vívida e por isso é, pra mim, um das canções mais linda... Essa é uma daquelas que o Vinícius esqueceu de compor.

Há como eu queria
Voltar ao passado
Cantar com meus amigos
Pra você fazer serenata
Nas madrugadas vazias
De sereno meu violão molhado
Eu cantava em sua janela
Eu era o seu namorado
A lua descia do céu
Eu cantando você acordava
Com os olhos cheios de amor
Abria a janela e me beijava
Depois de te dar uma flor
Quase chorando eu ia embora
Há se voltasse esse tempo
De poesia sem dor de outrora
O tempo passou como as nuvens
Sopradas pela tempestade
Onde está a minha alegria
Já não tenho mais felicidade
Vou cantar outra vez pra você
Jogar fora essa dor que me mata
Vou chamar meu melhor amigo
E pra você fazer serenata.


quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Demian - Hermann Hesse


“Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca.”

“A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.”

“Desses acontecimentos, que ninguém percebe, é que se nutre a linha axial interna de nosso destino. A falha, a rachadura se fecham mais tarde; podem cicatrizar e cair no esquecimento; mas em nossa câmara secreta mais recôndita nunca cessam de sangrar.”

“...podemos entender-nos uns aos outros, mas somente a si mesmo pode cada um interpretar-se.”

“Sempre é bom termos consciência de que dentro de nós há alguém que tudo sabe...”

“Queria apenas tentar viver aquilo que brotava espontaneamente em mim. Por que isso me era tão difícil?”

“Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso.”

"Há, por exemplo, entre as mariposas, certa espécie noturna da qual as fêmeas são em número muito mais reduzido do que os machos. As mariposas se reproduzem da mesma maneira que todos os outros insetos: o macho fecunda a fêmea, e esta põe ovos. Quando se captura uma dessas fêmeas (e numerosos naturalistas já comprovaram o fato), os machos vão dar ao lugar onde ela se encontra prisioneira, depois de voarem vários quilômetros de distância, viajando horas e horas através da noite. Presta atenção! A vários quilômetros de distância os machos sentem a presença da única fêmea existente nas imediações. Tentou-se buscar uma explicação para o fato, mas é muito difícil de explicar. Talvez os machos tenham o sentido do olfato extraordinariamente desenvolvido, como os bons cães de caça, que conseguem achar e seguir um rastro imperceptível. Compreendes? A Natureza está cheia de fatos como este, que ninguém consegue explicar. Mas imagino que se, entre essas mariposas, as fêmeas fossem tão freqüentes quanto os machos, estes talvez não tivessem um olfato tão fino. Se o têm é porque se viram na necessidade de exercitá-lo a tal ponto e a intensificar sua sensibilidade. Quando um animal ou um homem orienta toda a sua atenção e toda a sua força de vontade para determinado fim, acaba por consegui-lo. O mesmo acontece com o que antes dizíamos. Se observarmos uma pessoa com suficiente atenção, acabaremos por saber mais a seu respeito do que a própria pessoa.
(...) É necessário perguntar-se sempre, duvidar sempre. Mas a coisa é muito simples. Se uma dessas mariposas noturnas de que falamos pretendesse orientar toda a sua vontade em direção a uma estrela ou a outro fim semelhante, é claro que nada conseguiria. Mas nem sequer pretende isso. Busca apenas o que tem para ela um sentido e um valor, algo que lhe é necessário e de que não pode prescindir. E é então precisamente quando consegue também o inacreditável: desenvolver um sexto sentido, que só ela possui entre todos os animais. Nós, os homens, temos um campo de ação muito mais vasto e interesses mais amplos do que os animais. Mas também nós nos achamos inscritos num círculo relativamente pequeno e não conseguimos ultrapassá-lo. Posso imaginar muitas coisas, imaginar, por exemplo, que meu maior desejo seria chegar ao Pólo Norte ou algo semelhante; mas só poderei querer isso com suficiente intensidade e realizar esse desejo quando ele realmente existir em mim e todo o meu ser se achar penetrado por ele. Quando isso acontece, quando intentas algo que te é ordenado de dentro do teu próprio ser, acabas por consegui-lo e podes atrelar tua vontade como se fosse um animal de tiro. Se eu me esforçasse agora no sentido de que, por exemplo, o nosso pároco não usasse óculos, não haveria de conseguir nada. Seria apenas um jogo. Mas, quando no outono passado, surgiu em mim o firme propósito de mudar de lugar na classe, tudo aconteceu maravilhosamente. Logo apareceu um aluno, que até então estivera doente e cujo nome começava por uma letra anterior à inicial do meu, e como alguém devesse dar-lhe o lugar nos primeiros bancos, fui eu, desde logo, quem lhe cedeu o lugar, precisamente porque minha vontade já se encontrava preparada para aproveitar a primeira ocasião."

“A maioria das pessoas vive também em sonhos, mas não nos próprios, e aí é que está a diferença.”

“Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas.”

“Quando me comparava com os demais, sentia-me muitas vezes orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, e em outras tantas deprimido e humilhado. Ora me acreditava um verdadeiro gênio, ora fraco do juízo. Não me era possível compartilhar a vida e as alegrias dos outros rapazes de minha idade, e às vezes reprovava asperamente o meu isolamento e sentia profunda tristeza, crendo-me definitivamente afastado de todos os meus semelhantes, com todas as portas da vida fechadas irrevogavelmente para mim.”

“Não há porque te comparares com os demais, e se a natureza te criou para morcego, não deves aspirar a ser avestruz. Às vezes te consideras por demais esquisito e te reprovas por seguires caminhos diversos dos da maioria. Deixa-te disso. Contempla o fogo, as nuvens, e quando surgirem presságios e as vozes soarem em tua alma, abandona-te a elas sem perguntares se isso convém ou é do gosto do senhor teu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos.”

“Não devemos temer nem julgar ilícito nada do que nossa alma deseja em nós mesmos.”

“A ave saiu do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”

“A única realidade é aquela que se contém dentro de nós, e se os homens vivem tão irrealmente é porque aceitam como realidade as imagens exteriores e sufocam em si a voz do mundo inteiro. Também se pode ser feliz assim; mas quando se chega a conhecer o outro, torna-se impossível seguir o caminho da maioria. O caminho da maioria é fácil, o nosso é penoso. Caminhemos.”

“Esta é minha fraqueza, meu caro Sinclair, pois às vezes percebo que não deveria sentir tais desejos, que são um luxo e uma fraqueza. Seria mais digno e mais acertado estar simplesmente à disposição do destino, sem aspirações de qualquer ordem. Mas não posso, é a única coisa que não posso fazer. Talvez tu o consigas um dia. É muito difícil, é o único verdadeiramente difícil. Já sonhei em consegui-lo, mas não o consigo realizar, me dá medo. Não posso decidir-me a ficar tão desnudo e tão só em meio da vida; também eu sou um pobre cão fraco, que necessita de um pouco de calor e de alimento e gosta de sentir-se de vez em quando entre seus semelhantes. Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado somente os gélidos espaços infinitos.”

“Eu só esperava que meu destino se me apresentasse com uma nova imagem.”

"Todos os homens buscavam a 'liberdade' e a 'felicidade' num ponto qualquer do passado, só de medo de ver erguer-se diante deles a visão da responsabilidade própria e da própria trajetória."

"Nunca se chega ao porto. Mas quando duas rotas amigas coincidem, o mundo inteiro então nos parece o anelado porto."

“O que hoje existe não é comunidade, é simplesmente rebanho. Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários, rebanho de intelectuais...E por que têm medo? Só se tem medo quando não se está de acordo consigo mesmo.”

Frase - Irvin D. Yalom (Quando Nietzsche Chorou)

O desespero é o preço pago pela autoconsciência. Olhe profundamente para dentro de si e sempre encontrará o desespero.

A Forma Justa - Sophia de Mello Breyner Andresen

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo.

In "O Nome das Coisas"

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Lapso - Espetáculo "Violetas"


Ontem assisti um monólogo que contava a história da vovó Wilma, nascida em 1933. A neta da Dona Wilma (real) fez uma analogia do feminismo daquela época até hoje.
Me senti muito incomodado, afinal a neta da dona Wilma (Mayra Montenegro) tem a mesma idade que eu, e as situações machistas apresentadas pela Vó, mãe, tia, manicure e dela própria, dialogaram muito comigo, pois vivenciei praticamente  tudo aquilo (com outra perspectiva, masculina, obviamente). Inclusive um fato bem peculiar, que relata a separação de uma das personagens que não pode arrumar outro companheiro pois o ex ameaçava-a de morte, igual meu pai e minha mãe. Meu pai faleceu ano passado, mas separou-se da minha mãe há uns 25 anos, e ela não arrumou outro companheiro pois meu pai passou esses 25 anos ameaçando-a, dentre outras situações apresentadas no monólogo.
Após a apresentação, foi aberto um debate (o SESC é phoda) e valendo-se da timidez que Deus me deu, dei meu depoimento de homem machista. Acreditem, por inúmeras vezes eu sou machista sem me atentar... tenho junto com outros amigos, trabalhado essa condição que é tão enraizada dentro de nós homens.
Bom, porque de todo esse blá blá blá? A trilha sonora da Dona Wilma era obviamente da era do rádio, e a música que mais marcou a Dona Wilma e a neta é uma que me toca profundamente, foi um sucesso estrondoso na voz do Carlos Galhardo (1943 original) e regravada por outros tantos intérpretes (Elis Regina fez um sucesso absurdo também) e ao vivo vi o Ney Matogrosso e o Elymar Santos interpretarem essa lindeza.

P.S.: Ae me perguntam por que não gosto das "musicas atuais", por que sou tão xiita... Respondo que é porque tenho referentes, se o novo não for tão bom ou melhor, eu fico com minha velharia mesmo! Uma música pra dialogar comigo precisa transmitir uma mensagem que agregue algum tipo de valor, caso contrário pra mim não é musica. E Fascinação é fascinante! Trocadilho péssimo eu sei, mas já foi.



Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil, um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão, mil venturas previ

O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso quente, inebria, entontece
És fascinação, amor


P.S.: Ainda sobre o espetáculo de ontem... Meu irmão (o filho único com mais irmãos do Brasil) Luan algum tempo atrás criticou nossa postura (homens) em relação a forma como as mulheres tratam os assuntos pessoais, ele disse que elas estão muito mais evoluídas, parei pra pensar... homens geralmente, comumente, falam de Música, política, futebol (a maioria) as vezes uma filosofada de boteco... Não paramos para falar dos nossos sentimentos (falo do meu circulo de relacionamento)... Ele criou então um grupo de WhatsApp que chama-se Clube da Luta (referência ao filme, com o feinho do Brad Pitt) e lá tentamos discutir essas questões, inclusive machismo é um tema sempre recorrente, sempre que percebemos ou somos chamados atenção, levamos a questão para o grupo. Pois bem ontem pela manhã, ele mandou no grupo um documentário, a noite ao fim do debate a atriz indicou o mesmo documentário.

Doc. O SILÊNCIO DOS HOMENS - Esse filme é parte de um projeto que ouviu mais de 40 mil pessoas em questões a respeito das masculinidades e desembocou num documentário e num livro-ferramenta baseado nesse estudo com dados públicos.

Lapso - Renascer (Novela)

A musguinha de hoje é bem especial, com direito até rolleiflex. Era o ano de 1993, eu estava com apenas 10 anos de idade e não podia ficar na rua depois das 18 hs, o que me obrigava entrar para casa, tomar banho, jantar e começar a maratona de novelas da REDE ESGOTO de televisão. Música sempre foi algo que dialogou imensamente comigo, eu pirava nessa musga. Agora, rememorando, me dei conta que eu era uma criança no sentido literal da palavra e que bom que a música me causava esse fascínio, estou aqui até hoje contrariando as estatísticas e rejeitando essas "músicas" (que nem merecem ser classificadas de "musga") que não trazem nenhum tipo de mensagem que agregue valor.
Eu era tão criança que nem me dei conta da putaria que a globo já vendia na telinha, a trama:

José Venâncio (Taumaturgo Ferreira) casado, e infeliz, com Eliana (Patrícia Pilar) que não quer ter filho pra não "zuar" o corpo, conhece a Buba dá uma "bota" na Pilar fica com a Buba e descobre que ela é hermafrodita, "fica em choque" e pede pinico pra Pilar. Ae o Venâncio volta a ser infeliz e "re-volta" pra Buba que quer adotar até um filho pra fazer uma família feliz. Vai pra bahia e "se lasca nas bananeiras" foi morto numa tocaia que era pra matar o pai dele (Antonio Fagundes).
A Pilar sentindo o chifre crescer contrata um detetive, descobre o íntimo segredo da Buba, na sequência puta da vida com o "chefrenhoooo" valendo-se da filosofia de que chifre trocado não dói, ela se envolve amorosamente (mete um par de chifre, aqui na paraíba seria a expressão "2 de 10") com o forasteiro Damião.
Damião foi contratado pra matar o sogro da Pilar, Sr. Antonio Fagundes, (achei mancada tanto ator ruim pra morrer, o Frota por exemplo que fez: "Matou a família e foi ao cinema, se não assistiram, por favor, não assistam. kkkkk) mas ficou aliado dele e fecharam no mesmo bonde! kkkkk
Esqueci da Ritinha, que seduz (Dá) pro Damião (come) e casa com ele! Só que ao longo da trama ela envolve-se (Dá) pro Tarcisio filho (José Bento) irmão do Venâncio, filho do Fagundes.
Galera, mas tem o vizinho do Fagundes, o Teodoro (Herson Capri) que é casado com a Iolanda (Eliane Giardini) que finge que não sabe dos chifres que ela do marido. Esse casal tem uma filha a Sandra (Luciana Braga) que se apaixona pelo João Pedro (Marcos Palmeira, já "passava o cerol na geral" esse sem vergonha hahaha) e forma um triângulo amoroso com a Mariana (Adriana Esteves).
Manoooo o Teodoro casou com a Pilar!!!
O Padre Santo (Jofre Soares) se apaixona pela Joaninha (Teresa Seiblitz)... Ah PQP (puta que pariu) cansei dessa merda toda, não acredito que gastei um tempão pesquisando isso... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

P.S.: Essa história só quer ser a "Quadrilha" do Drummond, mas com muita putaria e traição hahahaha.

Recomeçando das cinzas
Eu faço versos tão claros
Projeto sete desejos
Na fumaça do cigarro
Eu penso na blusa branca de renda
Que dei pra ela
Na curva de suas ancas
Quando escanchada na sela
Lembro um flamboyant vermelho
No desmantelo da tarde
A mala azul arrumada
Que projetava a viagem
Recomeçando das cinzas
Vou recompondo a paisagem
Lembro um flamboyant vermelho
No desmantelo da tarde
E agora penso na réstia
Daquela luz amarela
Que escorria do telhado
Pra dourar os olhos dela
Recomeçando das cinzas
Vou renascendo pra ela
E agora penso na réstia
Daquela luz amarela
E agora penso que a estrada
Da vida tem ida e volta
Ninguém foge do destino
Esse trem que nos transporta
E agora penso que a estrada
Da vida tem ida e volta
Ninguém foge do destino
Esse trem que nos transporta

Rolleiflex


"Nada supera a dor de quem ficou pra trás
Olhando aquela cena vi que a vida é um sopro
Cançōes da vida em notas tristes
Que mexe com seu coração
Então a saudade vem
Te faz lembrar alguém
De um fato triste, lamentável, quase inaceitável
Mas foi escrito assim, todo começo tem um fim
Só lembranças e boas recordaçōes devem ficar
Eu faço um sacrifício, só pra não chorar
Talvez por ser verdadeiro
Os fortes também choram
Isso é tão comum
Os homens são sentimentais
Entre mil eu sou mais um." (Expressão Ativa)

 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Rolleiflex

Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos no mesmo plano. Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santo, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro, um dia serei eu mesmo, definitivamente. Como já foi dito: ouse conquistar a ti mesmo.


Se eu te dissesse - Castro Alves

Se eu te dissesse que cindindo os mares,
Triste, pendido sobre a vítrea vaga,
Eu desfolhava de teu nome as pétalas
Ao salso vento, que as marés afaga...

Se eu te dissesse que por ermos cimos,
Por ínvios trilhos de uni país distante,
Teu casto riso, teu olhar celeste
Ungia o lábio ao viajor errante;

Se eu te dissesse que do alvergue à ermida,
Do monte ao vale, da chapada à selva,
Junta comigo vagueou tua alma;
Junta comigo pernoitou na relva;

Se eu te dissesse que ao relento frio
Dei minha fronte à viração gemente,
E olhando o rumo de teu lar — saudoso,
Molhei as trevas de meu pranto algente;

Se eu te dissesse, bela flor das saias!
Que eu dei teu nome dos sertões às flores!...
E ousei, na trova em que os pastores gemem,
Por ti, senhora, improvisar de amores;

Se eu te dissesse que tu foste a concha
Que o peregrino traz da Terra Santa,
Mago amuleto que no seio mora,
Doce relíquia... talismã que encanta!... ;

Se eu te dissesse que tu foste a rosa
Que ornava a gorra ao menestrel divino;
Cruz que o Templário conchegava ao peito
Quando nas naves reboava o hino;

Se eu te dissse que tu és, criança!
O anjo-da-guarda que me orvalha as preces...;
Se eu te disserte... — Foi talvez mentira! —
Se eu te dissesse... Tu talvez dissesses...

Santa Isabel, 15 de agosto de 1870. (EF: OC, p. 459-460)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Separação - Alessandro Brito

Depois de um longo período de convivência, já separados, em uma conversa aleatória ela me disse:
- Eu nunca soube quem era você, mesmo dividindo a mesma cama por todo aquele tempo. Achei que você era especial, um cara muito foda, tão foda que me dei conta que na verdade você é comum, é só mais um na multidão, eu quem forjei você na minha ilusão!
Muito embora eu perceba que poderia ter confidenciado mais, desabafado mais, ainda sim, não deixei de ser eu, presente, intenso, amigo e sonhador. Tudo quanto não externalizei obviamente não poderia ser medido, esse novo julgo é com base em tudo que doei, os cuidados; carinho; dedicação; os tantos momentos que travei enormes batalhas contra meu ego tentando não ser machista, me policiando para não ser grosso, rude ou injusto só pelo prazer de sair vitorioso de uma discussão. No raros momentos que sai do meu limiar deixei claro que estaria jogando "as sujeiras" embaixo do tapete afim de tentarmos retomar a harmonia, mas que talvez, e provavelmente esse dia chegaria, eu iria varrer tudo, foi inevitável. Não acho justo que a limpeza da sujeira desconstrua tudo quanto foi lindo, maravilhoso e real. Temos a opção e o direito de mudarmos de ideia a qualquer momento, mas essas alterações não apagam os momentos vividos, é preciso considerar que toda moeda tem dois lados, assim sempre será. Eu continuo achando-a uma grande mulher, guardarei com muito carinho todos os momentos, tantos os bons quanto os difíceis, não tivemos momentos ruins.
Meus "pais adotivos" completaram 30 anos de casados e perguntei a minha mãe quais eram os defeitos do meu pai, ela então me respondeu: - Sandrinho, eu não sei quais são os defeitos do papai, não me apego a eles, se assim fizesse não estaríamos completando 30 anos de um casamento feliz que não vive de aparência. Agora se me perguntar quais as qualidades dele, posso te fazer uma lista!

As separações são cruéis, parece uma condição inevitável do término (não importa o motivo do fim) um lado há sempre de ficar magoado, normalmente o que ficou para trás! Eu poderia ter ficado muito magoado com essa nova verdade, feria meu ego, mas entendo que não se pode ver no outro o que não se tem dentro de si.
Uma guerra não se inicia única e simplesmente com soldados e armas, é preciso antes de mais nada um comando de alguém, esse se dá através da palavra que é a arma mais letal do mundo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Frase - Charles Bukowski

"Se, um dia, eu pudesse ver uma pessoa fazendo ou dizendo algo incomum me ajudaria a seguir em frente. Mas são rançosos, bolorentos. Não há emoção. Olhos, ouvidos, pernas, vozes, mas... nada. Congelam-se dentro de si mesmos, se enganam, fingindo que estão vivos.

Frase - Charles Bukowski


Que tempos penosos foram aqueles: Ter a vontade e a necessidade de viver mas não a habilidade.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Esperança - Alessandro Brito


Em um instante breve um sonho se desfaz, a linha tênue entre a paz e o desassossego balança e vejo a responsabilidade afetiva morrer na "página 02", que pena, mais uma história, fim!
Algumas vezes eu vivi o luto do fim, doeu, sufocou, angustiou... mas hoje entendo que senti em demasia, mas só porque eu não sabia que estava no meio da subida. A verdade é que pra mim sempre foi mais fácil desapegar, causava menos medo. Uma infância nada ortodoxa cheia de partidas inconscientemente me programou pra ser assim, no fundo era uma grande mentira que vendi a mim mesmo por longos anos, é muito mais fácil ser covarde, a história está ai para provar.
Todo espelho é cruel, ainda evito me olhar nos olhos, muitas coisas a serem reveladas me acuam e no fim, embora eu concorde que a esperança seja um mal que prolonga o sofrimento, sou escravo dela. Não sei definir o que é esperança e o que é sonho, uma confusão se instala e não consigo separá-los, também não sei se são reais ou se não passam de ideias que também compro vida a fora para conseguir ir em frente me sentindo parte desse mundo. Esse sentir-se parte não me parece um paradoxo somente meu, vejo as pessoas cabreiras, sentindo medo de sentir, se esquivando de viver, virando as costas pra emoção, se acovardando para o amor... coisas tão vitais, mas que estão sendo substituídas por máscaras frias de serenidade falsa, remédios ("Inútil dormir que a dor não passa"), alter ego feliz nas rede sociais que se assustam quando se deparam com pessoas que ainda se permitem sentir. E mesmo vivendo essas falácias, sonham e esperam.
Não, minha intensidade não é não é efêmera, o problema é que ainda sou refém da reciprocidade e decorei e aprendi a lição, correr na subida realmente cansa.

Portugal - Miguel Esteves Cardoso

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama?
Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar?
Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz?
Como se esquece?
Devagar.
É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.
Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente.
Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso agüentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso agüentar.
A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência.
O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém agüenta nada.
Ninguém agüenta a dor. De cabeça ou do coração.
Ninguém agüenta estar triste. Ninguém agüenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos.
Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo.
Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo.
É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução.
Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar.
Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte.
Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Queimada na Amazônia - Europa

@UnwantedOne
Fabio Leal • 4 horas atrás

Ah...EUROPA...sua linda...!!!

Europa sua linda, inocente, desinteressada e bondosa! Você dividiu povos e nações, criou fronteiras artificiais que colocaram povos amigos em guerras.
Escravizou milhões de africanos, dizimou milhões de indígenas, assassinou milhões de judeus, ciganos e gays. Viveu os últimos 2 milênios em guerras, produzindo inclusive duas guerras mundiais.
De quebra nos brindou com o comunismo, o nazismo e o fascismo.
A super civilizada Europa que matou, estuprou, explorou e roubou ouro, café, açúcar, madeira, minerais e vidas agora anda preocupada.
Devastou continentes e civilizações inteiras.
Extinguiu milhares de espécies animais.
Agora essa mesma Europa que transformou suas próprias florestas em carvão, essa tão boazinha e inocente Europa agora está preocupada com a Amazônia e quer dar sermão no país que mais protegeu as suas florestas no mundo.
Ah Europa sua colonialista genocida linda!

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

What a Wonderful World - Louis Armstrong

Alguns de vocês, jovens, foram me dizendo:
"Hey senhor, o que você quer dizer com "Que mundo maravilhoso"? E todas aquelas guerras em todos os lugares? Você acha isso maravilhoso? E quanto a fome e poluição? Isso não é tão maravilhoso também?
Bem, que tal ouvir um velho senhor por um minuto?
Me parece, não é o mundo que é tão ruim, mas o que estamos fazendo para ele. E tudo que estou dizendo é pra que se veja que mundo maravilhoso seria se apenas lhe déssemos uma chance. Ame querida, ame!Esse é o segredo, sim! Se muito mais de nós amassemos uns aos outros nós resolveríamos muitos problemas. E então este mundo seria "ótimo".
Isso aí, "o velho senhor continua dizendo".

Eu vejo as árvores verdes, rosas vermelhas também
Eu as vejo florescer para mim e você
E penso comigo mesmo, que mundo maravilhoso

Eu vejo os céus tão azuis e as nuvens tão brancas
O brilho abençoado do dia, e a escuridão sagrada da noite
E eu penso comigo, que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris, tão bonitas no céu
Estão também nos rostos das pessoas
Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: Como vai você?
quando realmente eles estão dizendo: Eu te amo!

Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles vão aprender muito mais que eu jamais vou saber
E eu penso comigo, que mundo maravilhoso
Sim, eu penso comigo, que mundo maravilhoso

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Frase - Alessandro Brito

Sistema nenhum é problema.  Qual o problema em assumir que o ser humano é que é o problema!?

Nossos Momentos - Elizeth Cardoso

Momentos são
Iguais aqueles em que eu te amei
Palavras são
Iguais aquelas que eu te dediquei

Eu escrevi, na fria areia
Um nome para amar
O mar chegou tudo apagou
Palavras leva o mar . . . .

Teu coração, praia distante
Em meu perdido olhar
Teu coração, mais inconstante
Que a incerteza do mar

Meu castelo de carinhos
Eu nem pude terminar
Momentos meus que foram teus
Agora é recordar . . . .

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O caminho de volta - Téta Barbosa

Já estou voltando. Só tenho 37 anos e já estou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda.

Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!

Mas, com quase quarenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra "fim". Antes dela, avistei a placa de "retorno" e nela mesmo dei meia volta.

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe.

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou).

Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz "a internet voltou!" já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook, o Twitter e o Orkut juntos.

Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. No São João, assamos milho na fogueira. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar.

Aí eu me lembro da placa "retorno" e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!" Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois". Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária e mora no Recife.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Rolleiflex

Numa madrugada quando tirávamos fotos num escadão da Madalena o "Guedaro", com aquela bigodeira marota, me disse: Foto é um pedaço da eternidade! Eu nunca me esqueci dessa reflexão.
Sua imagem eternizada nunca mais representará quem de fato você é, em todas as suas fotos você era. Muito embora, de fato, não mais sejamos, nossa mente tem o poder incrível de nos fazer voltar aos sentidos daquela imagem eternizada. Sinto o suor escorrendo da caminhada de Santa Tereza, descendo pelos arcos da Lapa, contornando a praça Paris (Na Glória) cruzando de ponta a ponta a arquitetura paisagística do Burle Marx no aterro do Flamengo, fazendo escala, no trote, no primeiro cassino do Brasil, Urca, uma água de coco contemplando a praia vermelha (Valeu Tim) o embarque do bondinho do Pão de Açucar, finalizando pelo abandonado Canecão, enfim, Leme. Muito suor, pés queimando, uma calçada escaldante e o sorriso de satisfação de uma criança que acabou de conhecer todos esses lugares, como "o cristão que anda a pé, na estrada de Canindé"(Ah, agora entendi Gonzaga).
Muitas vezes minha memória me trai, mas quando monto o mosaico (que dessa vez não é de pessoas, mas, de lugares que pude sentir o cheiro e tocar) com as peças difundidas eternizadas de quem fui e revivo cada emoção, transpiração, medo e tantos outros sentimentos daquelas tantas passagens, me sinto plenamente realizado, fico com os olhos cheios de esperança de colecionar novas memórias afim de aumentar as peças desse mosaico.
P.S.: Aos usuários dependentes (tipo craqueiro) das redes sociais, não importa onde ou quando foi tirada a sua foto, o que importa é a emoção que você passa (e sente) ao contar pras outras pessoas como ficou mais humilde desde a última viagem. Se não conseguir, putz, acho que alguém precisa viajar novamente.

Como Ter Uma DISCIPLINA INABALÁVEL - Efeito BUKOWSKI

Frase - Elizabeth Kubler-Ross

As pessoas são como vitrais coloridos: cintilam e brilham quando o sol está do lado de fora, mas quando a escuridão chega, sua verdadeira beleza é revelada apenas se existir luz no interior.

Frase - Bertolt Brecht

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Coração oprimido - Paulinho da viola

Já não tenho a mesma alegria
já não canto meu samba
como antigamente
está faltando algo mais
que me fazia feliz
que eu tento esquecer
não sei se é minha mocidade
ou é saudade de você

Hoje sem esperança
Com você na lembrança
me fogem as rimas
quero cantar e me falta alegria
meu verso já não faz sentido
não tenho mais inspiração
sinto o coração tão oprimido
que até já encostei meu violão

Frase - Alessandro Brito

Deus é o amor que se tem de dentro pra fora.

terça-feira, 30 de julho de 2019

O poeta pede ao seu amor que lhe escreva - Frederico García Lorca

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Frase - Alessandro Brito

A escola da vida só  dá diploma do sofrer.

Cartas - Fabielle Tavares

Em minha vida após muitas escolhas dentre certas e erradas, varri para debaixo do carpete de minha mente questões que mereciam atenção no que tange à superação delas por minha parte, todavia, por vezes ficavam a pairar num tapete mágico empoeirado esperando por faxina. Fui me permitindo levar pelo que vendem por aí sobre poder “o tempo tudo curar”, não que seguisse a ferro e fogo tal proposição, mas, assim a comprei e ao invés de me enriquecer com o artefato abstrativo adquirido, encontrei-me menos rica de mim mesma. Falo embasada por crises existenciais das quais penso ter tido antes me liberto apenas parcialmente, maquiando-as e consentindo que a efemeridade temporal engolisse e digerisse tudo para num tempo oportuno vomitar na minha própria cara. Então, junto com a tua vinda haveria de vir o maior dos quadros, aquele com menos tinta ou com mais tons escuros, mas, que realmente me fizesse tomar o lugar do tempo enquanto pintor, fazendo-o dele pincel, e assim colorir a minha existência humana com tonalidades vivas e escolhas de cores brilhantes tal qual a luz do Sol.
Não escolhi o ambiente do qual eu sabia ser frequentado por homens mais apresentáveis, ou o mais badalado, nem tampouco mais favorável para algum tipo de flerte. Entretanto, impossível não rastrear algum olhar que porventura me olhasse, repentinamente, ergui a visão e vi alguém que a mim não viu, enxerguei de antemão uma das mãos nas costas da dama a apoiar e a outra a conduzi-la pelo salão ao som de um forró módico, fitei passos que não desvairados eram firmes, brilhos nos olhos equivalentes ao de pó de estrelas ou simples purpurina, avistei um sorriso que como de súbito desejei que pousasse no meu e aquele desejo pareceu-me familiar. Era você. E, depois, o pedido com o qual tanto sonhei: ”Dança comigo?”. Pousei a cabeça por sobre teu ombro, me senti desvelada, me senti sua por um momento, deixei que a amiga fiel partisse, porque no calor do teu peito suado e desconhecido já confiava. Cravei-me. Cravou-me.
Como me pareceu estranho o ato de conversar, me perguntei quando havia me perdido disso e aceito cantadas baratas e beijos fáceis, pois, há muito tempo não tinha estado com um homem como você. O fato é que, devido a isso não estava acostumada, e me deixando levar por isso, deu a hora e fugi como Cinderela, deixando algo contigo. Quem sabe um pouco de mim por enxergar algo de mim em você. Só que daquilo queria mais prova e de ti provar mais: do mistério ser conhecedora; das rugas, curiosa;  do sorriso, o motivo;  da filosofia, o interesse; de você, sabê-lo.
Não conseguia me entregar completamente e ser intensa em uma transa há tempos,  usar de completa sensualidade, ou ser uma outra usando mais de “assanhamento”, quem sabe essa não seria eu mesma. Às vezes era assim que me imaginava ou oscilando sendo o mais carinhosa possível, custasse aquilo ou não uma só noite. Quem estaria com a casta e quem com a descarada? Quem estaria com as duas? (Ou) Quem realmente estaria comigo? Mas, eu também não ia sair por aí dando para qualquer um que quisesse, venhamos e convenhamos. Porém, reinava a insegurança da ilusão de não haver um outro dia, uma outra vez. Mas, por que haveria de haver? E por que não haveria de haver? Por que negar a intensidade no momento real e atual, vislumbrando um amanhã “inexistente”? Temor, talvez de vivenciar uma perda, quando a maior perdida era eu. Por que então não me entregar a um homem tão diferente de todos com quais estive? Seria eu puritana? Frígida? Santa? Biscate em disfarce? Não, eu diria covarde. E se eu não me soltava por inteira, por que seria finalmente você? Logo mais, a invasão de uma miscelânea com pensamentos e sentimentos de querer ser tua num altar com folhas de bambu e mar à vista imbuía o mistério de um homem que eu também não sabia quem era. Segui...
Inevitável não dar uma borrifada do teu perfume no pulso antes de partir, impulsivo e impossível não correr no instante do abrir de olhos no anseio por ler e saber o que havia em um novo bilhete fresco. Teriam novas descobertas sobre um ti, um mim e um nós. Nossas músicas, refeições, conversas, caminhadas, transas, carequices e caretices, abraços, filmes, fds, e tantos nossos. Sua família. Minha família. Nosso Natal. Os fogos reluzentes saindo do teu e do meu coração projetados acima do mar competindo com o brilhar da lua em um dia “qualquer”. Eu fui tua, foste meu, entre pedras e mar, ar e risco, e sendo luz trancados ante a escuridão. Saboreamos um ao outro, escondidos, sedentos, saciados. No mundo só nós dois. Sonhos esperando em um pedaço de papel. Seguimos...
Imaturidade, escolhas erradas. O estado de apaixonamento me deixara completamente vulnerável, teria eu encontrado aquele com quem tanto sonhei? E teria eu condições de mantê-lo? Coragem de escancarar a janela da alma para alguém que não podia e nem devia, por não poder, dar certezas de que permaneceria comigo?
Uma... Não entendia o porquê do término, nem a sua frieza ao tratar do assunto e da relação, de forma tão supérflua, precoce e insípida, nem tampouco os motivos, uma vez que você também tinha defeitos.  A forma simples como tratara um “rompimento”, o fim de alguma etapa, não sabia se isso era genialmente invejável ou estupidamente insensível. Estava na sua cama, e com medo de você não ficar comigo, em breve eu estaria na sua e você com medo de que eu não ficasse com você. No final, alguém ficou com alguém? Ou nunca nos deixamos?
Meu chão caiu, mais não existia chão. Imergi no meu “mundinho” mais ainda. Você tinha rompido comigo sem me dar os motivos plausíveis, sem uma conversa. Afinal, hoje em dia, também usam Watshapp para começar e terminar "coisas". Assim, rápida e bruscamente, aquele por quem eu teria idealizado meus sonhos de menina, e comigo queria casar quando me comia dizendo, partiu e me partiu.
Dias e noites em claro, choro pelos cantos, flash de tudo, bilhetes empilhados, músicas sem tom, melancolia nas melodias, dor, tristeza, solidão e tensão, desespero, desânimo, faltas e fotos, mensagens, saudade, raiva, angústia, ódio, lembranças, tempo atemporal, olheiras, corpo esguio, penumbra, lua sem brilho, a estrela mais forte a olhar meu pranto: tio João, casa suja, bagunça, restos de comida, geladeira vazia, acordar um tormento, que viver eu teria, mas, eu teria que viver. Embora as não tivessem sido clarificadas com veemência, o conheci bem decidido, não quis tentar uma volta por achar não ter argumentos contra você, pois era sua verdade e “não haveria muito o que fazer”, todavia, me perguntara qual seria a sua verdade e se ela seria verdade. Segui...
Dilacerada, resolvi esquecer-te, e ainda imersa nesse processo, eis que me surge alguém: você. Daí, pensei que quisesse saber como eu estava para dar uma de preocupado e solidário pela minha dor que doía sem saber por quê. Logo mais fiquei extasiada em saber que eu estivera certa e que você haveria engolido o seu orgulho embebecido com H2oh.
“Do que o ser humano não é capaz...”, embora a primeira frase plagiada tivesse no pente da minha mente naquele momento, coração batera mais forte do que em todas as vezes juntas que te vi chegar em casa, afinal, te via chegar de novo. Te ouvi, fria te abracei, chorastes, chorei, sorri, sorristes, subi descalça nos teus pés, te vi, senti teu pranto, ressenti o meu. Saudade se desfez um pouquinho, dia amanheceu, você e eu: lua e sol sempre lá. Perdoei, dançamos novamente. Me senti parte da tua casa outra vez, era como se o tempo tivesse parado e voltado numa noite como as nossas. Estava de volta ao meu lar, familiarizada com os móveis, a varanda, nós dois.
Ainda insegura, imatura, com medo, confiei não em mim, ou mais em ti, ou confiei, mas, em ti. Seguimos...
Entendo, hoje, que pelo fato de não estar desde o(s) início(s) recuperada e nem com preparo para o que a relação exigiria, ou mesmo o mundo, as responsabilidades, os sonhos, ansiedade para dar certo, isso soa familiar, não é? O meu encanto pela volta, me cegara e não permitira que eu saísse completamente de algo que eu estava tentando antes da volta. Talvez eu sentisse de alguma maneira não estar preparada, mas, não queria te perder de novo. Não ousei dizer um não. Disse sim pra nós, e não pra mim, primeiro.
Outra... De repente, você distante, gélido, autossuficiente, indiferente, fase nova, e a sua verdade à tona esse tempo todo aguardando eu re(velar) a minha.
Em uma fase difícil para uma volta que cerceou erros, perdão, medos, confiança, instabilidade, incertezas e realizações, você não queria estar do meu lado. Seria eu a culpada? Isso corroía. Veio a revolta, perguntas acerca do que eu teria ou não feito dessa vez. Estávamos em fases difíceis e você não queria meu apoio e atenção, então, que teor teria se só fosse para fases boas? Eu pedi tanto para irmos no Parque festivo afim de dançarmos, nos divertimos juntos, tirar foto, socializar, sermos namorados declarados, sair para o nosso forró. Desnecessários. E quando você teve a oportunidade, foi sem mim. Não compreendi, daí, em um outro momento, acredito eu depois de um dia cansativo para você...me viro e de relance te vejo chamar alguém para dançar, não quis ficar para a dança, nem mesmo vi quem seria a donzela. Deu a hora e fugi como Cinderela levando algo comigo. Hoje, percebo que se eu tivesse ficado, assemelharia-se a quando Breuer viu a sua Bertha com o jovem doutor. Mas, isso não se daria, naquele dia eu não tinha esse pensamento e foi mais fácil esquivar-me. Então, em um futuro próximo me daria conta de que você era livre.
Gestar, abortar, gestar, abortar... você só podia está de brincadeira. E pensei... Ele não percebe o que está fazendo comigo, com minha mente. Quem ele é? Fez justamente por saber quem é? Ou será que teria motivos dessa vez? Será que sempre os teve? Talvez na primeira vez você tivesse se apegado ao ciúmes como motivo principal e esquecera de algum outro, e agora encontrara fundamento nele? (Quem sabe de um outro lado você questionasse a respeito da minha não percepção referente ao que eu estava (ou não) fazendo comigo mesma). Seguiste...
 Fato é que à parte o que se dá hoje, não podemos negar toda a veracidade dos sofrimentos, assim como com base no que estávamos pensando e sentindo em determinado tempo. Fomos bem verdadeiros.
"Amor"... Teria você o confundido com outra coisa? O rebaixado sem saber ou sabendo-o em função do que queria? Quem sabe teria se arrependido de tudo o que proferiu naquelas horas, todavia, vi muita sinceridade em tudo e em seu olhar e lágrimas.  Então, sem uma conversa... afinal, hoje em dia, também usam Watshapp para começar e terminar "coisas".  viera mais uma revolta, você havia estado aqui de madrugada, sufocado querendo me ver, falar, e esperei aquela mesma ousadia para um hoje.
Você devia ter enxergado que talvez se continuasse sem essa “pausa”, e ficasse ao meu lado, tentando direta ou indiretamente me ajudar a sair do meu mundo condicionante, eu não teria evacuado da zona de conforto.  Eu, o vi como alguém que não me apoiou, deixou a menininha ao relento, tendo se virar sozinha para que finalmente eu, a mulher, pudesse ingressar na esfera da autolibertação tendo por companhia tudo o que a mim estava disponível acerca da mente humana, e aplicar a minha. Saber o caminho e não dá-lo seria usar de egoísmo? Ou és assim e a sua verdade seria não estar com alguém como eu, vivendo o seu momento, sendo sincero consigo, sem importar-se comigo, se só agiu frente a sua verdade e não há nada que eu possa fazer ou julgar. Sendo, afinal, corporificação egoísta?
Questionei o fato de você mais uma vez não souber me entender, se pôr no meu lugar, era como se não se importasse, mas, eu quem teria que me entender, achar o meu lugar, me pôr em meu lugar e me importar. Não obstante dizer que continuo acreditando no poder das relações, isso se elucida quando sei que posso ser “chave” para alguém se encontrar, como você foi comigo.
Então, tinha que ruminar sozinha, um foda-se para mim.
Li “Quando Nietzsche chorou”, preciso dizer mais alguma coisa? Sim, preciso.
Foi aí que chorei quando Niezsche chorou... eu não o tinha lido e hoje sei que você sabia que eu não o tinha feito. Quando você rompeu comigo, nunca tive coragem de abrir o livro e sentir o exalar daquele cheiro por entre as páginas. Entretanto, tendo aceito meu processo como apregoado de reflexões, aceitei o desafio, devorei-o, e você esteve comigo o tempo todo. É clara, inegável, vívida, e quase reencarnada a influência nietzscheana em sua vida, em tudo o que faz, pensa e “verdadeirencia”. Notei as causas, a forma como agia comigo, como não agia, tudo em cartas e dados expostos no tabuleiro da minha ignorância. Assim, compreendi como você é. Penso, se você só foi você o tempo todo. Livre. Mas, e as tuas questões mal resolvidas? Você não era perfeito.
Também tive que refletir sobre você a fim de saber se ou em que eu estava certa ou errada. Quando pensei sobre ti, confirmei a minha admiração pelo ser humano e homem que és, não sei se a sua libertação tenha se dado verdadeira e completamente quando após uma vida cômoda você veio para o “desconhecido”.
Quem sabe você quisesse ter as oportunidades que eu poderia ter, quanto você tinha minha idade, e eu ser segura como você, quando com a sua idade. Hoje, entendo mais a sua preocupação com emprego, estabilidade, lar e afins.
Sobre a concepção referente a gerar filhos, me impressiona ao passo de dar vida a um ser criador, elevado, imaginei alguém cônscio e feliz de suas escolhas desde as suas primeiras, retornando ao seu retorno e sendo prontamente felicitado com o que vira. O quanto não sonhei caladinha em ser mãe de Orpheu. Todavia, me felicita saber que quando ele vir para ti sei que tipo de homem será, se “depender” de você.
Você inconstante, eu insegura; você não poderia transmitir segurança uma vez oscilante, e eu, por minha vez, não podia te oferecer a minha verdade e te fazer constante.
Talvez não pudéssemos mesmo ser um do outro: você livre como uma águia, enquanto eu, tão frágil quanto um passarinho que não sabia ainda voar. Que direito, afinal, tinha eu de tocar nessas suas questões íntimas ou nos teus lábios?
Enfim, te achava tão sábio, agora sei o quão o é. Sabe a sua verdade.
Foi assim que me dei conta que homem inteligente dá trabalho, e que mulher inteligente também deva dar. Prefiro ser uma mulher inteligente e me envolver com um homem também inteligente. Vejo o quanto é difícil viver pensando sobre tudo, o quão é árduo ser um ser ativo em pensamento, o quão é triste e fascinante estar um passo a frente quando todos poderiam estar. Uma vida pensante pode ser muito mais difícil, mas, muito mais realizável.
Me intrigava como você mudava rápido de opinião sobre algumas coisas, havia proferido saudade e após um mês apenas, rompe comigo, entretanto, hoje eu sei do paradoxo de que um mês pode ser uma eternidade, e que é possível uma mudança em pouco tempo.
No livro, em tudo me vi em tanto nos vi, vi nossa vida bem ali, como se fôssemos personagens de uma obra ímpar de pares. Corajosamente reli a minha vida, atitudes, erros, acertos, e aí insegurança e fragilidade expostas na minha cara, tudo se clarificando, minhas ações, causas, consequências, escolhas, escuridão, dor, mas, também luz, e tudo o que eu ainda posso ver num eterno retorno.
Na primeira vez achei maduro ficar sem contato contigo, eu estava arrasada e queria esquecer-te. Agora, sinto que seja mais maduro desabafar por meio deste.
Não sei se te acho um filho da puta ou se o elevo por ter de forma indireta me “levado” do breu ao brio.
Ademais não me arrependo, para mim fiz parte de uma linda e épica história, e por que não tão imensa quanto à de Pórcia e Leolino? Ela será lembrada, terá sempre o seu lugar em meu retorno, e me fará feliz de alguma forma.
Melhor, dois arrependimentos: em nunca ter-me deixado conviver com você, e sim com “significados ilusórios” que a ti atribuí. Ou estaria sendo eu muito radical, pois também hei de defender que fui íntima de tuas virtudes e as conheci de perto; não ter me permitido tornar-me quem eu sou, antes, e partilhar contigo, deixando-te me conhecer. Hoje entendo o que você busca, quem você quer. E você é digno que querer ter e de ter alguém livre, pois você o é.  Embora não tenhamos culpa um das projeções do outro, claro que agora surgem dúvidas quanto a você ter projetado também algo em mim, e o meu resto você não via no início e não conhecera as minhas dores. Nem eu, as suas.
Mas, e se nós não tivéssemos nos encontrado ou nos permitido? Se você não tivesse acabado daquela vez? Se não tivesse voltado? Se eu não tivesse voltado? E se essa sua nova fase não tivesse surgido? Ou a minha?  Entretanto, sabemos que tantos “ses” condicionantes só ocorrem aqui e aí em nossas mentes, e que, por outro lado, só nelas podemos agora vê-los construído um destino que se deu de forma diferente e gradual, compondo o que hoje se tem. Penso se tivesse sido diferente, se nós não tivéssemos nos conhecido...E fico feliz pelas energias que buscaram uma a outra terem florescido o nosso encontro.
 Se fosse para ter feito as mesmas escolhas e elas me trouxessem até aqui, as teria feito da mesma forma porque se fosse para ter te escolhido para vivermos tudo o que vivemos, a escolha teria sido de novo, um você, um nós, e a minha verdade. O que contribuira para ela? O tempo? O envelhecimento? A não morte? Um Deus? Um eu? A própria vida?
 Palavras ferem, palavras curam...
Você falou que era eu a mulher da sua vida, esse título estaria entre o único do qual me honraria em toda vida pessoal ou acadêmica, sempre sonhei com um cara que quando me visse entrar ou passar, pensasse consigo: “Ela é a mulher da minha vida”. Não sei o que havia feito para isso, mas, me honrou muito.
Te perguntei se você tinha certeza que queria passar o resto da vida comigo e você teria dito sim. Nós dois sabemos que “as certeza são muito perigosas”, porém, espero ter sido inesquecível para ti em algo, plantado ou transformado, porventura ensinado algum valor, caso de algum que você não soubesse, assim, terei e terás a certeza indubitável de que isso encontrou saída e demandou de quem realmente sou. Então, de alguma forma, estarei em teu retorno.
 Agradeço por contribuir de forma basilar na minha travessia, muitos estão aparados e amparados pelo seu mundo limitado. Afora objeções, entendo a sua filosofia de vida, nirvana e amor a sua verdade. E que meu mundo restrito me perdoe, mas, a visão daqui de fora é muito mais bonita.         Quando se prova da liberdade, não podemos julgar aquele que a tem ou a quer ter, então, salva toda mágoa, o não dito, o dito também, as lágrimas, seria indigno não reconhecer a sua importância na minha vida. Sinta-se engrandecido por isso, infle seu ego, não porque desperta tesão em alguma buceta, não por ter pique todo dia para o “papelzinho”, ou não fazer no mínimo um gol em uma partida de futebol, não só por ter amigos de verdade com quem pode contar quando a grana apertar. Sinta-se por isso.
        Não quero dizer que você estava completamente certo, mas, que você não estava totalmente errado, entretanto, me arrisco em exposição em te fazer pensar sobre questões que porventura você "pudesse" não ter pensado, peço desculpas por interpretações errôneas, mas, não há um porquê de eu omitir nada daqui. Essa é a minha verdade e o meu alívio se configura em partilhá-la contigo. Seguir.

P.S.1: Você disse estar desempregado, sentado em uma mesa no Café Poético, perdido. Um dia pensei em que daria muito para ter te encontrado ao acaso naquele dia, mesmo sem conhecer-te, te levaria para casa.

P.S.2: Pensei em te dar a vitrola sem revelar que eu a tinha dado, pois sonhei em entrar no teu apartamento um dia e você me mostrá-la e comentar tê-la ganho de aniversário, e eu, bem ladina te diria que o sabia.

P.S.3: Espero que um dia se eu bater em sua porta, você pergunte: Quem é? Mas, eu bateria mesmo em sua porta?

P.S.4: Te agradeço por todos os foras ásperos recebidos.

F.T.
Depois de ter você, para que querer saber se estamos no verão?

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