terça-feira, 30 de abril de 2019

Diga lá, coração - Gonzaguinha



São coisas dessa vida tão cigana
Caminhos como as linhas dessa mão
Vontade de chegar e olha eu chegando
E vem essa cigarra no meu peito
Já querendo ir cantar noutro lugar
Diga lá, meu coração
Da alegria de rever essa menina
E abraçá-la, e beijá-la
Diga lá, meu coração
Conte as histórias das pessoas
Das estradas dessa vida
Chore essa saudade estrangulada
Fale, sem você não há mais nada
Olhe bem nos olhos da morena
E veja lá no fundo a luz daquele sol de primavera
Durma qual criança no seu colo
Sinta o cheiro forte do teu solo
Passe a mão nos seus cabelos negros
Diga um verso bem bonito e de novo vá embora
Diga lá, meu coração
Que ela está dentro e bem guardada
E que é preciso mais que nunca
Prosseguir

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Canção - Cecília Meireles

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Mocidade louca (Adelino Moreira) - Nelson Gonçalves

Eu tenho pena dessa mocidade
Leviandade que o prazer domina
Anda correndo sem saber pra onde
Pensa que o mundo amanhã termina

Eu tenho pena dessa pobre gente
Que fatalmente irá chorar um dia
Se eu pudesse ser seu espelho,
Dar meu conselho
Bem que eu daria

Também fui moço e na mocidade
Dei liberdade à minha fantasia
Passei o tempo em noites loucas
Beijando bocas
Que nem conhecia

Hoje, confesso, só ficou saudades
Da mocidade que se dissipou
Trago no peito um crivo de penas
Mágoas centenas
Que o amor deixou.

Frase - Alessandro Brito

"Pra sempre" não quer dizer que isso ou aquilo vai durar pelo
resto dos seus dias, apenas quer dizer que você nunca esquecerá."

terça-feira, 16 de abril de 2019

Estilo - Charles Bukowski

O fazer uma coisa chata com estilo é preferível a fazer uma
coisa perigosa sem estilo.
fazer uma coisa perigosa com estilo é o que chamo arte.
as touradas podem ser uma arte.
o boxe pode ser uma arte.
o amor pode ser uma arte.
abrir uma conserva de sardinhas pode ser uma arte.
não há muitos com estilo.
não há muitos que possam manter o estilo.
já vi cães com mais estilo que homens.
todavia poucos cães têm estilo.
os gatos têm-no em abundância.

quando hemingway pôs os seus miolos numa parede
com uma shotgun, isso foi estilo.
às vezes as pessoas dão-te estilo.
joana d´arc tinha estilo.
joão baptista tinha estilo.
jesus.
sócrates.
césar.
garcía lorca.
conheci homens na prisão com estilo.
conheci mais homens na prisão com estilo do que fora dela.
o estilo é a diferença, um modo de o fazer, um modo de ser feito.
seis pássaros em silêncio numa poça de água, ou tu,
saindo da casa-de-banho sem me veres.
modo fresco de encarar um dia chato ou perigoso.
estilo é a resposta para tudo.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

terça-feira, 9 de abril de 2019

Frase - Leon Tolstoi

"Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil."


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Frase - Alessandro Brito

"A vida nunca cobrará de você, posses. As pessoas sim, cobrarão. A vida cobra apenas seu furor, nada mais."

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Desintegração - Abgar Renault

 Eu tenho o coração cheio de coisas para dizer...
E a minha voz, se eu acaso falasse,
teria a força de uma revelação!

Meu espírito palpita ao ritmo desordenado e aflito
de asas prisioneiras que se dilaceraram
na arrancada impossível da libertação e da altura.

Minhas mãos tremem ainda ao contato
imaterial, sobre-humano e fugitivo
de qualquer coisa além e acima deste mundo...

Adormeceu para sempre no fundo dos meus olhos
a saudade de paisagens estranhas e longínquas,
que nunca, nunca mais voltarão neste tempo e neste espaço.

Doem meus olhos. Tremem, ansiosas, as minhas mãos.
Meu espírito palpita. Tenho o coração cheio de coisas para dizer...
Eu estou vivo, Senhor! mas, em verdade, é como se estivesse morto..

O tempo e o rio - Edu Lobo/ Capinan (1969)

 O tempo é como o rio
Onde banhei o cabelo
Da minha amada
Água limpa
Que não volta
Como não volta aquela antiga madrugada

Meu amor, passaram as flores
E o brilho das estrelas passou
No fundo de teus olhos
Cheios de sombra, meu amor

Mas o tempo é como um rio
Que caminha para o mar
Passa, como passa o passarinho
Passa o vento e o desespero
Passa como passa a agonia
Passa a noite, passa o dia
Mesmo o dia derradeiro
Ah, todo o tempo há de passar
Como passa a mão e o rio
Que lavaram teu cabelo

Meu amor não tenhas medo
Me dê a mão e o coração, me dê
Quem vive, luta partindo
Para um tempo de alegria
Que a dor de nosso tempo
É o caminho
Para a manhã que em seus olhos se anuncia
Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo
Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Marré Desci - Cantigas Populares

Eu sou pobre, pobre, pobre
De marré, marré-de-cy
Meu sorriso não encobre
Tudo quanto eu padeci
Tantos sonhos eu vivia
Tantas vidas eu perdi
Só pra dar-te uma alegria
Que eu guardei, guardei pra ti
Dar-te a flor mais perfumada
Dentre as flores que eu colhi
Da mais bela madrugada
Dar-te a estrela que escolhi
Para ser eterna amiga
Pelas noites que eu vivi
Procurando uma cantiga
Pra cantar perto de ti
Perguntou seu pai
Pela vida passarela
Que ofício dás a ela?
Dou-lhe ofício de mulher
Respondeu seu pai
Esse ofício me agrada
Seja imensa a tua estrada
Bem feliz, se Deus quiser
Ah, se um dia eu fosse rico
Compraria um violão
Cantaria a noite inteira
Dormiria em sua mão
Sonharia uma roseira
Que eu plantei quando esqueci
Que eu sou pobre, pobre, pobre
De marre, marré-de-cy

Soneto - Mário Faustino

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

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