quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Rolleiflex

Numa madrugada quando tirávamos fotos num escadão da Madalena o "Guedaro", com aquela bigodeira marota, me disse: Foto é um pedaço da eternidade! Eu nunca me esqueci dessa reflexão.
Sua imagem eternizada nunca mais representará quem de fato você é, em todas as suas fotos você era. Muito embora, de fato, não mais sejamos, nossa mente tem o poder incrível de nos fazer voltar aos sentidos daquela imagem eternizada. Sinto o suor escorrendo da caminhada de Santa Tereza, descendo pelos arcos da Lapa, contornando a praça Paris (Na Glória) cruzando de ponta a ponta a arquitetura paisagística do Burle Marx no aterro do Flamengo, fazendo escala, no trote, no primeiro cassino do Brasil, Urca, uma água de coco contemplando a praia vermelha (Valeu Tim) o embarque do bondinho do Pão de Açucar, finalizando pelo abandonado Canecão, enfim, Leme. Muito suor, pés queimando, uma calçada escaldante e o sorriso de satisfação de uma criança que acabou de conhecer todos esses lugares, como "o cristão que anda a pé, na estrada de Canindé"(Ah, agora entendi Gonzaga).
Muitas vezes minha memória me trai, mas quando monto o mosaico (que dessa vez não é de pessoas, mas, de lugares que pude sentir o cheiro e tocar) com as peças difundidas eternizadas de quem fui e revivo cada emoção, transpiração, medo e tantos outros sentimentos daquelas tantas passagens, me sinto plenamente realizado, fico com os olhos cheios de esperança de colecionar novas memórias afim de aumentar as peças desse mosaico.
P.S.: Aos usuários dependentes (tipo craqueiro) das redes sociais, não importa onde ou quando foi tirada a sua foto, o que importa é a emoção que você passa (e sente) ao contar pras outras pessoas como ficou mais humilde desde a última viagem. Se não conseguir, putz, acho que alguém precisa viajar novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Marcadores