sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Separação - Alessandro Brito

Depois de um longo período de convivência, já separados, em uma conversa aleatória ela me disse:
- Eu nunca soube quem era você, mesmo dividindo a mesma cama por todo aquele tempo. Achei que você era especial, um cara muito foda, tão foda que me dei conta que na verdade você é comum, é só mais um na multidão, eu quem forjei você na minha ilusão!
Muito embora eu perceba que poderia ter confidenciado mais, desabafado mais, ainda sim, não deixei de ser eu, presente, intenso, amigo e sonhador. Tudo quanto não externalizei obviamente não poderia ser medido, esse novo julgo é com base em tudo que doei, os cuidados; carinho; dedicação; os tantos momentos que travei enormes batalhas contra meu ego tentando não ser machista, me policiando para não ser grosso, rude ou injusto só pelo prazer de sair vitorioso de uma discussão. No raros momentos que sai do meu limiar deixei claro que estaria jogando "as sujeiras" embaixo do tapete afim de tentarmos retomar a harmonia, mas que talvez, e provavelmente esse dia chegaria, eu iria varrer tudo, foi inevitável. Não acho justo que a limpeza da sujeira desconstrua tudo quanto foi lindo, maravilhoso e real. Temos a opção e o direito de mudarmos de ideia a qualquer momento, mas essas alterações não apagam os momentos vividos, é preciso considerar que toda moeda tem dois lados, assim sempre será. Eu continuo achando-a uma grande mulher, guardarei com muito carinho todos os momentos, tantos os bons quanto os difíceis, não tivemos momentos ruins.
Meus "pais adotivos" completaram 30 anos de casados e perguntei a minha mãe quais eram os defeitos do meu pai, ela então me respondeu: - Sandrinho, eu não sei quais são os defeitos do papai, não me apego a eles, se assim fizesse não estaríamos completando 30 anos de um casamento feliz que não vive de aparência. Agora se me perguntar quais as qualidades dele, posso te fazer uma lista!

As separações são cruéis, parece uma condição inevitável do término (não importa o motivo do fim) um lado há sempre de ficar magoado, normalmente o que ficou para trás! Eu poderia ter ficado muito magoado com essa nova verdade, feria meu ego, mas entendo que não se pode ver no outro o que não se tem dentro de si.
Uma guerra não se inicia única e simplesmente com soldados e armas, é preciso antes de mais nada um comando de alguém, esse se dá através da palavra que é a arma mais letal do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Marcadores