quinta-feira, 13 de junho de 2019

Jantar - Alessandro Brito

Eu me propus fazer o jantar, eu queria mesmo revê-la. Sairia mais em conta, em todos os aspectos, comprar algo por ae, mas queria que fosse especial e dedicar meu tempo e meus "dotes culinários" me pareceu a forma mais honesta e romântica, é ainda sou um romântico incorrigível. Cuidei de cada detalhe (não foram muitos, falta de opção na cozinha), escolhi a trilha sonora, separei uns LPs: Marvin Gaye, Diana Ross, Berry White... Ela como sempre estava estupenda, aquele sorriso negro é de deixar qualquer malandro de "pomba rolou", uma energia que abala as estruturas de qualquer um que não conseguir sintonizar na sua frequência, imponente, sem frescura, riso solto... mas tudo isso figurou apenas no meu pensamento, pois ela não apareceu. Disse que por conta do trabalho... não importa o motivo, ironicamente essa foi a melhor parte da noite. Me fez perceber que existe mais uma regra dessa sociedade doente que não quero continuar acatando. Não, não é necessário que seja uma via de mão dupla. Nesse primeiro momento é desconfortante pensar assim, foge do meu mundo seguro, mas tenho certeza que amadurecendo a ideia, me tornarei um tanto quanto mais livre. Somos educados a dar para receber, as próprias escrituras pregam isso, mas aos 36 anos tenho a convicção que o que importa é se doar, sentir-se bem, isso, por si só, deve ser o suficiente. Talvez, seja como, quando entendemos que ser a nossa melhor companhia é o fator primordial para sermos bons companheiros. Cada um está onde quer estar, e se não estava comigo, por um motivo ou outro, estava onde queria e eu não era prioridade. Seria muito incomodo, aceitar tal condição vivendo a filosofia de "mão dupla", mas a partir do momento em que faço meu ego entender que não sou o centro do universo e ao invés de focar no "bolo" que levei, focar nas sensações que senti desde quando fui ao mercado escolher o jantar e todo o resto, estou convicto que entrei em um novo processo de evolução. Instintivamente me pego pensado que se não houver a reciprocidade, aquela do senso comum, estarei fazendo papel de idiota, mas isso é porque ainda está enraizada em mim aquela velha filosofia, enquanto não me fizer mal, seguirei agindo dessa forma. Bom apetite!

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