Quando em 2012 começamos a nos reunir aos milhões no centro de SP no outro dia eu escutava o mesmo argumento que ainda escuto hoje: Que eu era bobo em trabalhar o dia inteiro e depois faculdade e depois protesto no centro da cidade, que não ia dar em nada, seguido da pergunta: E ae, foram ontem na paulista, e o que mudou?
Pessoas que falam de resultado político a curto prazo sem dúvida são pessoas que não estudam política e debatem recortes de jornais.
6 anos depois ao fazer uma analogia fico muito satisfeito com os resultados, quem diria que tantos colarinhos brancos estariam na situação que estão, quem diria que até o molusco passaria por essa situação, aguardo ansiosamente para que todos os outros morcegos possam ser encandeados com a luz da justiça. Realmente toda caminhada começa no primeiro passo e certamente esse foi dado.
P.S.: E ainda que não tivesse tido nenhum resultado positivo, minha luta por si só seria vitoriosa como cidadão.
P.S.1: Foi e é incrível saber que existem milhões de brasileiros que também estão dispostos a lutar, cada qual a sua maneira, e que acreditam e buscam um brasil justo.
P.S.2: Um protesto para ter legitimidade não exige necessariamente o sacrifício humano, como vejo muitos criticarem que fulano e ciclano não saem de casa ou isso ou aquilo, ter a consciência política, é de fato um grande passo. Deixar o futebol e a novela de lado e dar importância a política é de suma importância.
P.S.3: Apoiei o Golpe (os próprios áudios que vazaram indicava o temer como bode expiatório) de forma consciente, como disse política não se resolve do dia pra noite, mas era necessário a queda, caiu. Esperava que os que criticavam o bate panela, fizessem algo proporcional, para uma nova queda, que eu apoiaria da mesma maneira, mas infelizmente são discursos isolados e sem a menor força.
P.S.4: Essa segregação de direita, esquerda, pobre, rico, mortadela, coxinha... foi eficaz até agora para os políticos nos dividirem e eles fortalecerem suas alianças. Mas agora que entendemos que de fato não passamos de marionetes que façamos aliança o povo com o povo.
Minha lira tem um jeito de quem está perdido em um caminho sem volta, não há paredes, não há estradas, não há luz nem referentes, há apenas passos desvairados que me conduzem querendo voltar...
sexta-feira, 25 de maio de 2018
quarta-feira, 23 de maio de 2018
Nas quebradas do mundaréu (parte I) - Plínio Marcos e Geraldo Filme
O início do disco é impactante. Plínio declama uma introdução loquaz e cruel sobre a cidade de São Paulo que quer retratar: “Eu conto história das quebradas do mundaréu, lá de onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos. Falo da gente que sempre pega a pior, que come da banda podre, que mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove e que só berra da geral sem nunca influir no resultado. Falo dessa gente que transa pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. Falo desse povão, que apesar de tudo é generoso, apaixonado, alegre, esperançoso e crente numa existência melhor na paz de Oxalá. Quem quiser saber meu nome não precisa nem perguntar: eu me chamo Plínio Marcos, sou pagodeiro do lugar. O samba é a forma da gente minha falar dos seus mais ternos sentimentos, e é nesse embalo que eu vou. Vou contar do samba da Pauliceia e de sua gente, que é do tamanho do mundo, porque não se acanha de contar as histórias do seu pedaço de chão de terra firme”.
sexta-feira, 11 de maio de 2018
quarta-feira, 9 de maio de 2018
Ainda sobre o carnaval que passou - Ricardo Sangiovanni
por Ricardo Sangiovanni*
Era falsa a música. O triste não era que fosse versão de canção estrangeira. O triste era que ninguém local da província tivesse conseguido criar outra que lhe sobrepujasse o diabo do visgo. O triste é que seja isso, hoje em dia, o que o carnaval que por aqui se faz tenha a oferecer.
Era falso o músico. A começar por aquele cantor de trocentos carnavais, já de tédio enrouquecido, enlouquecido pela desgraça do marketing, transmutado, por fim, de artista (de arteiro) em melancólico display luminofalante.
Era falsa a dança. Porque não dá tempo a que o povo tire dela, por si, o proveito bailarino que melhor lhe aprouver. O que houve demais foi música-bula – “dançando, dançando!”, “quero ver você na coreografia!”, sem falar nas odiosas instruções de bota a mãozinha ali, mete a cabecinha acolá. Haverá terreno mais fértil para um novo tipo de zombeteiro fascismo do que o carnaval da Bahia?
Era falso o camarote. Porque afinal não extraía sua razão de ser do espetáculo a que dava vista. Mais bem valia por si, cheio de boates, de bebidas, de gracinhas de cabelo espichado, para que tanta pintura, para que tanto salto. Onde o suor de folia? Onde o par de tênis melado de mijo de farra de rua?
Era falsa a celebridade (ou quiçá defasado demais o banco de dados deste palavrista, vai saber). Fato é que os célebres de hoje em dia nem bem vinte anos têm mais. E vêm para o carnaval crentes de serem eles quem conferem brilho à festa, quando o certo seria o contrário. São tão célebres que só se fazem notar quando empacotados e expostos na vitrine de alguma marca, muito bem pagos, obrigado. Às vezes só topam vir se acompanhados de 18 (dezoito) parentes e amigos. A Bahia virou Disneylândia.
Era falsa a festa. A festinha cool na piscina, onde os vips tomam sol, era recheada de bund… digo, de meninas bonitas, todas elas devidamente contratadas para pagar biquininho até o sol se pôr. Havia, vá lá, um clima de diversão no ar. Mas uma diversão fria de tão opulenta, sem feição de certa alegria natural de viver que dá sentido ao carnaval.
Era falso o trabalhador. Não havia carnaval na cara do garçom, do segurança, do fritador de camarão sem cabeça. Até o modelete-porteiro que distribuía sorrisos e viseiras da marca estava puto – é que o coturno cenográfico em que lhe meteram machucava-lhe o raio da unha encravada. E não ponhamos a culpa das caras amarradas no pouco preço da paga, porque o pessoal do isopor de rua fatura bem menos e se diverte bem mais. O que ninguém suporta muito cheio de risada é essa atmosfera odiosa de glamour e famosidade, essa falsa mistura, esse agressivo apartheid.
Era falso o jornalista. Éramos todos falsos nós, jornalistas, alugando nossas canetas, nossas câmeras, para essa festa pobre que os homens armaram para nos convencer. Falsas as nossas perguntas, falsas as imagens que publicamos. Nós, como todo o restante da criadagem, não estávamos ali por sombra de querer, e era ruim pensar que estávamos perdendo, por mais um ano, a chance de mandar pro diabo essa palhaçada infeliz em que se transformou o carnaval baiano.
Era, ademais, desolador saber que logo ali, tão perto de nós quanto fora de nosso alcance neste ano, desfilava verdadeira felicidade. Porque de verdade no meio daquilo tudo, só mesmo, atrás do trio de Armandinho, a pipoca moderna pulando solta, passando comum, fugidia – como é, aliás, toda vera alegria.
*Ricardo Sangiovanni, jornalista, coordena o blog O Purgatório e mantém no NR a coluna Mistério do Planeta. Escreve de Salvador. Imagem do quadro Arlequin et Pierrot (1924), de André Derain, Paris
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