quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Poema - Múcio Góes

I.
Gargalhou o riso sujo de quem faz ode às tripas da alma. Sempre preferiu quem não se reduz a casca de pele e ossos que nos cerca.
II.
Eu não sei quantas vezes mais vou ter que dizer que é a última vez que te digo que não há vergonha alguma em ser o que é. Essa alma suja também é coisa humana, por que você se reduz a esse amontoado de músculos enrijecidos? Deixa ser o gosto da tua pele suada, os pés sujos de sangue e deixa ser o cheiro de teu gozo contido.
Cresce em ti uma trepadeira praguenta, e você perde o tempo da poda. Centímetro por centímetro, a raiz de tua alma apodrece enquanto você se ocupa com o resto do mundo. O cheiro azedo de teus dias impregnam nas narinas, dá coceira, dá um incômodo na ponta da coluna onde seus por quês misturam-se com esse eco vazio.
Por que esvaziar teus espaços em branco?
Por que esbranquiçar seus espaços vazios?
Tua sujeira é tua.
Cuide bem dela.
III.
Pela última vez, lavou as mãos em praça pública, para que todos vissem que sua imundice pertencia ao mundo todo.

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