DITADURA MILITAR "DESENHOU" O PADRÃO DE INTELECTUALIDADE NO PAÍS
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - Paradigma do intelectual favorecido pela ditadura militar.
Por Alexandre Figueiredo
Nos últimos anos, surgem denúncias de que os cursos de pós-graduação nas universidades, sejam elas particulares ou públicas, e nos círculos intelectuais em geral, produzem trabalhos científicos e monográficos medíocres.
Eu mesmo senti na pele isso, já que os meios acadêmicos há muito tempo dão preferência a trabalhos meramente descritivos do que aqueles que pudessem analisar as diversas problemáticas existentes nos diversos fenômenos da vida humana no Brasil.
A situação é tão séria que, se fossem jovens e brasileiros hoje, pensadores como Noam Chomsky e Umberto Eco seriam barrados já nos primeiros portões entre o bacharelado e as inscrições para o mestrado.
Vamos fazer uma comparação. Um médico sanitarista quer estudar uma doença que anda dizimando a população de determinado lugar. Se fosse num meio acadêmico saudável, ele lançaria questionamentos, identificaria o vírus, verme ou inseto transmissor, e combateria a doença a partir de uma vacina desenvolvida a partir de uma combinação de substâncias.
Mas, se for pelo contexto acadêmico que se vive no Brasil nos últimos 45 anos, o médico não pode estudar a doença. No máximo, identificará os agentes transmissores da doença, descreverá todo o processo de doença e mortes, e depois relativizará, provavelmente se limitará a dizer que as vítimas não estavam preparadas para enfrentar as doenças. As vítimas, portanto, levam a culpa pela doença.
A geração de intelectuais que temos, de analistas neoliberais parcialmente reformistas - mas sem coragem plena para superar a pobreza e as desigualdades sociais - a cientistas com projetos inócuos, passando pela intelectualidade "bacana" que pouco está ligando para os problemas da cultura popular brasileira, se formou graças a um padrão ideológico vigente desde a ditadura militar.
Isso se deu há cerca de 45 anos. Veio o AI-5 e os últimos expurgos dos meios políticos e acadêmicos que ainda faziam oposição à ditadura militar entre 1964 e 1968. O higienismo sócio-político e cultural, depois do auge das manifestações oposicionistas entre 1967 e 1968, criou um ambiente "asséptico" que refletiu nas classes acadêmicas que passaram a dominar o cenário do "milagre brasileiro".
E se o ideólogo neoliberal Roberto Campos tinha a imagem "queimada" - sobretudo pelo movimento estudantil que, numa alusão de que Campos era capitalista ferrenho, lhe deu o apelido pejorativo de Bob Fields - , verbas da Fundação Ford, a serviço da CIA, propiciaram a ascensão de um intelectual que modernizou as ideias de Campos num contexto supostamente progressista.
Sim, estamos falando de Fernando Henrique Cardoso, que mais tarde exerceu dois mandatos como Presidente da República e tornou-se o principal paradigma de intelectual no país. Um dos fundadores do PSDB, a ele se cercam barões midiáticos, empresários entreguistas, tecnocratas e uma linhagem de pensamento que vigora até hoje nos círculos intelectuais contemporâneos.
Fernando Henrique Cardoso só discordava da política de "poder duro" determinada pela ditadura militar. Mas ele acabou modernizando as teorias neoliberais de Campos num contexto de "poder suave" (a nova estratégia neoliberal, que vale até hoje) que propõe um desenvolvimento subordinado do Brasil sem que se apelasse para a violência política então adotada pela ditadura.
Graças à influência de FHC na USP, exterminou-se a reflexão crítica dos meios acadêmicos. Criou-se um estigma equivocado, mas dominante, de que contestar o "estabelecido" é "menos científico", e que refletir de forma questionadora os problemas cotidianos é um manifesto de "opinião" e não de "abordagem científica".
Parece ridículo, mas é isso que acontece. O problema acontece, mas você não pode contestar. Se contestar, está emitindo uma "opinião", e não uma "abordagem científica". "Científico" ficou associado ao processo meramente descritivo dos problemas cotidianos, muitos deles nem vistos como problemas, mas como "fenomenologias" que só devem ser identificadas.
O trabalho monográfico passou a ser contaminado por um mito de "imparcialidade" comparável ao da imprensa conservadora, um mito que durante muito tempo era atraente e visto com aparente unanimidade. O acadêmico, tal como o jornalista, não poderia tomar uma posição, seu trabalho era neutro, como um observador de um problema que ele era proibido de resolver.
O que está por trás desse padrão de intelectualidade, que gerou uma geração recente de intelectuais "bacanas", que defendem a bregalização da cultura popular e jogam no lixo qualquer questionamento sobre desnacionalização, mediocrização e imbecilização cultural, é não só a herança da ditadura militar, mas também a do pensamento neoliberal e dos investimentos estrangeiros.
HERANÇA DA DITADURA, DE FHC E ATÉ DE GEORGE SOROS!!
Intelectuais que tentam parecer "progressistas", como Paulo César Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna - com a ressalva de que este último assume seu vínculo com os barões da mídia e sua herança acadêmica de FHC - são na verdade herdeiros de uma linha de pensamento tramada nos bastidores da ditadura civil-militar após o AI-5.
Não se podia torturar todos os brasileiros. Tinha-se que criar um padrão de cultura, de pensamento acadêmico, de assistencialismo sócio-econômico e educacional, para que, dentro das estruturas do poder dominante, resolver os problemas sociais para minimizar as inquietações da sociedade com a situação cotidiana lastimável.
Veio o Mobral para alfabetizar os brasileiros sem que represente um risco de, com um povo educado, ameaçar o poderio dominante. O coronelismo radiofônico veio impor a música brega para o gosto popular, e toda uma mídia da época passou a trabalhar uma imagem caricata do "popular" que nem as chanchadas teriam coragem de fazer.
Para completar o trabalho, criou-se uma intelectualidade cujo método de pensamento apostava numa "problemática" sem problemas, num "debate" que não debatia, num "pensamento reflexivo" que não refletia coisa alguma, numa "provocação" que nada provoca etc. Uma intelectualidade que desperdiçava o domínio do processo de pesquisa e questionamento para reafirmar o "estabelecido".
E isso contagia até pessoas consideradas experientes. O sociólogo Milton Moura, da Universidade Federal da Bahia, escreveu uma verdadeira BOBAGEM intitulada "Esses pagodes impertinentes...", no periódico Textos, da UFBA, em 1996, coisa que nem os delírios engraçadinhos de um André Forastieri seriam capazes de despejar na imprensa.
Mas Moura se beneficiou de sua visibilidade e seu status acadêmico, defendendo a imbecilização cultural puxada pelo É O Tchan, e antecipando toda uma blindagem intelectual que, anos mais tarde, transformaria inócuos e tolos funqueiros em pseudo-vanguarda e falsos ativistas sociais.
Na ciência, então, a ênfase está muito mais em coisas inofensivas, como analisar a influência da música no desempenho de atletas olímpicos. Temos grandes cientistas, mas os investimentos priorizam trabalhos inócuos, e os grandes feitos científicos acabam "morrendo" por causa da burocracia e de outros interesses político-econômicos.
E isso criou toda uma tradição castradora do pensamento humano. Enquanto lá fora há grandes intelectuais que não temem fazer questionamentos aprofundados mesmo com verbas estatais, aqui o que se vê são "pesquisadores" e "pensadores" escrevendo bobagens ou pesquisando paliativos.
E seu pessoal ainda se caba em estar contribuindo para o progresso de nosso país. Mas, felizmente, não é preciso um diploma de pós-graduação para percebermos que toda essa intelectualidade é herdeira da ditadura militar, do neoliberalismo de FHC e até mesmo das verbas enviadas pelo astuto especulador financeiro George Soros, o "domador de feras esquerdistas".
Minha lira tem um jeito de quem está perdido em um caminho sem volta, não há paredes, não há estradas, não há luz nem referentes, há apenas passos desvairados que me conduzem querendo voltar...
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