Ah! Piscianos
São seres especiais
Se alegram com nossa alegria
Choram com nossa tristeza
Se entregam aos amigos
De maneira impressionante
Gentis e apaixonantes
Sonham o mundo
Num instante
Mas é um indeciso
Viajante
Romântico incurável
Estar do seu lado
É algo incomparável.
Henrycke Bozza Schenberk
Minha lira tem um jeito de quem está perdido em um caminho sem volta, não há paredes, não há estradas, não há luz nem referentes, há apenas passos desvairados que me conduzem querendo voltar...
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
In: Poesia Completa - Dispersos (1918-1964) - Cecília Meireles
Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio
Quase todas as grandes famílias musicais têm heróis assim. Alguém que sem perder o contacto com a raiz fundadora de determinada tipologia musical é capaz de expandir o seu leque de influências, acabando por universalizar essa linguagem.
O flamenco teve a sorte de ter o guitarrista, compositor e produtor Paco de Lucía, que morreu esta quarta-feira, aos 66 anos, de enfarte cardíaco. Estava na praia com os filhos, em Cancún, no México, onde tinha uma casa, quando se sentiu indisposto, vindo a morrer a caminho do hospital.
Ele foi esse músico que sem perder o contacto com a essência, foi capaz de mesclar o flamenco com outras sonoridades, principalmente com o jazz ou a bossa nova, embora os blues, a salsa, a música hindú ou a música árabe também o tenham marcado. Mas não foi apenas porque revestiu exteriormente o flamenco que se tornou imortal. Nunca é apenas por isso.
É também, e talvez ainda mais importante, porque possuía o alento interior, a inspiração, que lhe inflamava a alma, passando essa intensidade para os dedos e a guitarra de seis cordas que dedilhava como ninguém. Em Portugal, onde actuou por diversas vezes (a última das quais em 2007) era vê-lo, sentado, perna traçada, curvado sobre a sua guitarra, ora introspectivo, ora dinâmico e agitado, mas sempre apaixonado.
Como todos os grandes heróis populares transcendeu fronteiras e estilos. Também tinha, como acontece sempre nestes casos, detractores, que o acusaram de abastardar o flamenco, quando o começou a mesclar com jazz. Ele levava sempre consigo a cultura da Andaluzia e o flamenco, mas o seu olhar tinha dimensão universal. Ao longo dos anos transformou-se no mais internacionalmente reconhecido intérprete do flamenco.
“Nunca perdi a ligação com as raízes na minha música”, afirmou numa entrevista na década de 1990. “O que tentei fazer foi situar-me na tradição e, ao mesmo tempo, procurar noutros territórios, procurar coisas novas para transportar para o flamenco.” Anos mais tarde reafirmaria essa ideia. "Não tenho medo que se perca a essência do flamenco", declarou em Agosto de 2004, depois de receber o Prémio Príncipe das Astúrias, distinção maior das artes e da cultura em Espanha. "Um guitarrista tem de ter mais do que ritmo, tem de ter ar. Ar é fundamental", declarou na mesma entrevista.
Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-o-guitarrista-paco-de-lucia-1626231#/0
O flamenco teve a sorte de ter o guitarrista, compositor e produtor Paco de Lucía, que morreu esta quarta-feira, aos 66 anos, de enfarte cardíaco. Estava na praia com os filhos, em Cancún, no México, onde tinha uma casa, quando se sentiu indisposto, vindo a morrer a caminho do hospital.
Ele foi esse músico que sem perder o contacto com a essência, foi capaz de mesclar o flamenco com outras sonoridades, principalmente com o jazz ou a bossa nova, embora os blues, a salsa, a música hindú ou a música árabe também o tenham marcado. Mas não foi apenas porque revestiu exteriormente o flamenco que se tornou imortal. Nunca é apenas por isso.
É também, e talvez ainda mais importante, porque possuía o alento interior, a inspiração, que lhe inflamava a alma, passando essa intensidade para os dedos e a guitarra de seis cordas que dedilhava como ninguém. Em Portugal, onde actuou por diversas vezes (a última das quais em 2007) era vê-lo, sentado, perna traçada, curvado sobre a sua guitarra, ora introspectivo, ora dinâmico e agitado, mas sempre apaixonado.
Como todos os grandes heróis populares transcendeu fronteiras e estilos. Também tinha, como acontece sempre nestes casos, detractores, que o acusaram de abastardar o flamenco, quando o começou a mesclar com jazz. Ele levava sempre consigo a cultura da Andaluzia e o flamenco, mas o seu olhar tinha dimensão universal. Ao longo dos anos transformou-se no mais internacionalmente reconhecido intérprete do flamenco.
“Nunca perdi a ligação com as raízes na minha música”, afirmou numa entrevista na década de 1990. “O que tentei fazer foi situar-me na tradição e, ao mesmo tempo, procurar noutros territórios, procurar coisas novas para transportar para o flamenco.” Anos mais tarde reafirmaria essa ideia. "Não tenho medo que se perca a essência do flamenco", declarou em Agosto de 2004, depois de receber o Prémio Príncipe das Astúrias, distinção maior das artes e da cultura em Espanha. "Um guitarrista tem de ter mais do que ritmo, tem de ter ar. Ar é fundamental", declarou na mesma entrevista.
Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-o-guitarrista-paco-de-lucia-1626231#/0
Paulinho da Viola - Só o tempo - Heineken Concerts 94 - Rio de Janeiro
Largo a paixão
Nas horas em que me atrevo
E abro mão de desejos
Botando meus pés no chão
É só eu estar feliz
Acende uma ilusão
Quando percebe em meu rosto
As dores que não me fez
Ah, meu pobre coração
O amor é um segredo
E sempre chega em silêncio
Como a luz no amanhecer
Por isso eu deixo em aberto
Meu saldo de sentimentos
Sabendo que só o tempo
Ensina a gente a viver
Nas horas em que me atrevo
E abro mão de desejos
Botando meus pés no chão
É só eu estar feliz
Acende uma ilusão
Quando percebe em meu rosto
As dores que não me fez
Ah, meu pobre coração
O amor é um segredo
E sempre chega em silêncio
Como a luz no amanhecer
Por isso eu deixo em aberto
Meu saldo de sentimentos
Sabendo que só o tempo
Ensina a gente a viver
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
domingo, 23 de fevereiro de 2014
Bob Burnquist's "Dreamland" - A Backyard Progression
Mestre!
Posso tudo... com disciplina e esforço! ;^)
Posso tudo... com disciplina e esforço! ;^)
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Filme original animado do Café Seleto - Depois de um sono bom" (+playlist)
Infância anos 80... foi perfeita!!!
As diferenças com todas as outras gerações são enormes, brincamos na rua mas pegamos o início da era tecnológica... Desenhos sem apelações, comerciais leves, mercado ainda fechado para importação, logo, um consumismo diferente...
Tempo maravilhoso!!!
As diferenças com todas as outras gerações são enormes, brincamos na rua mas pegamos o início da era tecnológica... Desenhos sem apelações, comerciais leves, mercado ainda fechado para importação, logo, um consumismo diferente...
Tempo maravilhoso!!!
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Fantasia de um alecrim dourado
Se eu morasse em uma casinha na beira do rio, no interior
E acordasse com a passarada anunciando o fim da madrugada,
Foi meu amor, quem me fez sonhar com a felicidade, luz que se apagou.
Se for por mim, quando eu morrer eu quero brotar num pé de alecrim.
Ver nascer cada flor bonita, raio de sol bendizendo a vida!
Onde a dor não existe mais, só a amizade, o amor, a paz.
Foi meu amor, quem me fez sonhar com a felicidade, luz que se apagou.
Se for por mim, quando eu morrer eu quero brotar num pé de alecrim.
Nas águas do São Francisco, tão alvas como papel,
Ver vindo, se aproximando o anoitecer do céu.
Adormecer num barquinho, sonhando com meu benzinho,
Brincar de rodar ciranda no clarão da lua do meu lugar...
Se eu morasse numa casinha na beira do rio no interior,
Só queria um fogão a lenha, luz de candeeiro e o teu amor...
E acordasse com a passarada anunciando o fim da madrugada,
Foi meu amor, quem me fez sonhar com a felicidade, luz que se apagou.
Se for por mim, quando eu morrer eu quero brotar num pé de alecrim.
Ver nascer cada flor bonita, raio de sol bendizendo a vida!
Onde a dor não existe mais, só a amizade, o amor, a paz.
Foi meu amor, quem me fez sonhar com a felicidade, luz que se apagou.
Se for por mim, quando eu morrer eu quero brotar num pé de alecrim.
Nas águas do São Francisco, tão alvas como papel,
Ver vindo, se aproximando o anoitecer do céu.
Adormecer num barquinho, sonhando com meu benzinho,
Brincar de rodar ciranda no clarão da lua do meu lugar...
Se eu morasse numa casinha na beira do rio no interior,
Só queria um fogão a lenha, luz de candeeiro e o teu amor...
A corujinha - Vinícius de Moraes
Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei que
O teu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah! coitadinha
Que feinha que é você
Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder
Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa com quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV
Corujinha, corujinha
Que feinha é você!
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei que
O teu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah! coitadinha
Que feinha que é você
Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder
Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa com quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV
Corujinha, corujinha
Que feinha é você!
Ella Fitzgerald - There's A Lull In My Life
O mundo pára de girar, o relógio pára assinalando
Tudo pára, mas a chama em meu coração
Isso continua queimando, queimando...
Tudo pára, mas a chama em meu coração
Isso continua queimando, queimando...
domingo, 16 de fevereiro de 2014
Meu mundo e nada mais - Guilherme Arantes
Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos e eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
De enxergar um novo dia
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos e eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz
De enxergar um novo dia
sábado, 15 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Leve - Chico Buarque
Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço
O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo
Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve
Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço
O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo
Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve
Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço
Seguir - Alessandro Brito
Aprendi que a cada 10 anos se vive uma vida. Aos 10 anos eu via o mundo de uma maneira que mostrou- se totalmente diferente quando cheguei aos 20 anos. Agora, nas vésperas de completar meus 31 anos, posso afirmar com certeza: A cada dez anos vive-se uma vida!
Deparei-me com um segundo divisor de águas, “seguir”!
Minha guerra sempre foi interior, em meio aos conflitos de postura e conduta dos quais eu deveria seguir. Mas seguir o quê? Para onde? Eu não tinha menor ideia, eram muitos referentes.
Fui trilhando os caminhos que me foram direcionados e me perdendo cada vez mais. Eu não tive escolhas, estava inserido em um contexto que não me dava meios de ser ou fazer diferente, naqueles momentos era preciso vivenciar tudo quanto se apresentava. Não tenho uma linhagem, sou como meu país, uma terra usurpada e depois abandonada.
Acreditei em muitas coisas e me decepcionei, obviamente, mas trago um saldo positivo. Me absolvo dos erros, me orgulho dos fracassos, afinal caí tentando.
Aprendi perdoar aqueles que me magoaram e usaram da minha inocência sou grato, me fizeram enxergar o outro lado da moeda, da ponte pra lá.
Eu transpiro e exalo amor, toda minha matéria é feita de amor. Meu suor é amor; minhas lágrimas são amor, meu toque é amor, meu desejo é amor, minha ansiedade é amor, meu medo é amor, minhas tristezas e alegrias são amor, meus anseios são pleno amor.
A vida apresenta novos tons com passar do tempo, deixa-se de apegar-se ao metafísico e compreende-se que todo tempo que se tem é agora. O transcendental não mais advém das escrituras, ele vem dos olhares que se fitam e se compreendem, dos corações que alinham- se e descompassam-se, das lágrimas roladas sem se quer dizer uma palavra, das mãos que unem- se até para sempre, de corações e universos que se alinham.
Hoje me tornei um homem sem passado, não olharei mais para trás, não quero mais narrar minha história triste, não vale a pena, isso é fato.
Cansei, cansei de ver os filmes serem vistos apenas como entretenimento, dos livros serem lidos apenas como “cultura”, das músicas serem ouvidas e não sentidas, da minha história ser apenas motivo de comoção. Estou farto da hipocrisia que me cerca, e por esse motivo brusco renascer.
Adiante não compactuarei com a covardia que infesta os corações de toda gente, em especial na covardia em amar.
Não me baseio em nada que eu não tenha vivenciado. Não tenho grandes segredos, mas confesso: Minha maior decepção está na covardia da falta de entrega, seja lá por qual tenham sido os motivos. Vivo de intensidade, e não consigo entender por que esta sociedade doente não desperta para a vida. É irônico demais para minha compreensão como podem querer tanta segurança em uma vida de pura imprevisibilidade. A morte nunca será o fim, pelo contrário, desde o dia que nascemos ela deveria ser o maior dos incentivos para a liberdade.
“A liberdade é um sonho de quem se permitiu aprisionar”, sábias palavras do Martinho da Vila. Meu coração sofre por falta de amor mundano, eu falo do amor homem e mulher. Minha maior habilidade continua sendo “sonhar”, mas não penso que irei viver histórias como: “Orfeu e Eurídice” (Mitologia Grega); “Marie Curie e Pierre Curie“ (Nobel Física e Química); “Luiza Santiaga e Gabriel Eligio” (Amor em tempos de cólera) ou “Pórcia e Leolino Pinheiro Canguçu“ (ABC de Castro Alves), histórias, dentre outras, que me marcaram de forma imensurável, e me fizeram querer, ser o amor em pessoa e ter o amor em pessoa.
Acredito que nos caminhos do amor, somos todos meros forasteiros, sendo assim, não descansarei um só instante do tempo de vida que eu tiver, a procurá-la. Talvez eu siga até o fim da linha sozinho, se assim for, chegarei feliz por saber que nunca desisti, que acreditei por toda vida que meu corpo não possuía uma alma, mas sim que minha alma possuía um corpo, que buscou acalanto e compreensão em outro templo. Que buscou incansavelmente por ela que seria inspiração das novas manhãs e seria o perfume da primavera, reiniciando todo dia o ciclo da vida.
Hoje compreendo que os sentimentos se transformam, tudo dependerá da maneira como serão gestados e principalmente cuidados, não quero aprender deixar de sentir.
Deparei-me com um segundo divisor de águas, “seguir”!
Minha guerra sempre foi interior, em meio aos conflitos de postura e conduta dos quais eu deveria seguir. Mas seguir o quê? Para onde? Eu não tinha menor ideia, eram muitos referentes.
Fui trilhando os caminhos que me foram direcionados e me perdendo cada vez mais. Eu não tive escolhas, estava inserido em um contexto que não me dava meios de ser ou fazer diferente, naqueles momentos era preciso vivenciar tudo quanto se apresentava. Não tenho uma linhagem, sou como meu país, uma terra usurpada e depois abandonada.
Acreditei em muitas coisas e me decepcionei, obviamente, mas trago um saldo positivo. Me absolvo dos erros, me orgulho dos fracassos, afinal caí tentando.
Aprendi perdoar aqueles que me magoaram e usaram da minha inocência sou grato, me fizeram enxergar o outro lado da moeda, da ponte pra lá.
Eu transpiro e exalo amor, toda minha matéria é feita de amor. Meu suor é amor; minhas lágrimas são amor, meu toque é amor, meu desejo é amor, minha ansiedade é amor, meu medo é amor, minhas tristezas e alegrias são amor, meus anseios são pleno amor.
A vida apresenta novos tons com passar do tempo, deixa-se de apegar-se ao metafísico e compreende-se que todo tempo que se tem é agora. O transcendental não mais advém das escrituras, ele vem dos olhares que se fitam e se compreendem, dos corações que alinham- se e descompassam-se, das lágrimas roladas sem se quer dizer uma palavra, das mãos que unem- se até para sempre, de corações e universos que se alinham.
Hoje me tornei um homem sem passado, não olharei mais para trás, não quero mais narrar minha história triste, não vale a pena, isso é fato.
Cansei, cansei de ver os filmes serem vistos apenas como entretenimento, dos livros serem lidos apenas como “cultura”, das músicas serem ouvidas e não sentidas, da minha história ser apenas motivo de comoção. Estou farto da hipocrisia que me cerca, e por esse motivo brusco renascer.
Adiante não compactuarei com a covardia que infesta os corações de toda gente, em especial na covardia em amar.
Não me baseio em nada que eu não tenha vivenciado. Não tenho grandes segredos, mas confesso: Minha maior decepção está na covardia da falta de entrega, seja lá por qual tenham sido os motivos. Vivo de intensidade, e não consigo entender por que esta sociedade doente não desperta para a vida. É irônico demais para minha compreensão como podem querer tanta segurança em uma vida de pura imprevisibilidade. A morte nunca será o fim, pelo contrário, desde o dia que nascemos ela deveria ser o maior dos incentivos para a liberdade.
“A liberdade é um sonho de quem se permitiu aprisionar”, sábias palavras do Martinho da Vila. Meu coração sofre por falta de amor mundano, eu falo do amor homem e mulher. Minha maior habilidade continua sendo “sonhar”, mas não penso que irei viver histórias como: “Orfeu e Eurídice” (Mitologia Grega); “Marie Curie e Pierre Curie“ (Nobel Física e Química); “Luiza Santiaga e Gabriel Eligio” (Amor em tempos de cólera) ou “Pórcia e Leolino Pinheiro Canguçu“ (ABC de Castro Alves), histórias, dentre outras, que me marcaram de forma imensurável, e me fizeram querer, ser o amor em pessoa e ter o amor em pessoa.
Acredito que nos caminhos do amor, somos todos meros forasteiros, sendo assim, não descansarei um só instante do tempo de vida que eu tiver, a procurá-la. Talvez eu siga até o fim da linha sozinho, se assim for, chegarei feliz por saber que nunca desisti, que acreditei por toda vida que meu corpo não possuía uma alma, mas sim que minha alma possuía um corpo, que buscou acalanto e compreensão em outro templo. Que buscou incansavelmente por ela que seria inspiração das novas manhãs e seria o perfume da primavera, reiniciando todo dia o ciclo da vida.
Hoje compreendo que os sentimentos se transformam, tudo dependerá da maneira como serão gestados e principalmente cuidados, não quero aprender deixar de sentir.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Conto - Casal velhos
Conta a história de um casal que tomava café da manhã no dia de suas bodas de prata.
A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo. Ela pensou: “Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida”.
Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse: “Muito obrigado por este presente, meu amor… Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!”
A mulher passou a manteiga na casca do pão e o entregou para o marido, ficando com o miolo. Ela pensou: “Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais o meu marido e, por 25 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer meu desejo. Acho justo que eu coma o miolo pelo menos uma vez na vida”.
Para sua surpresa, o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse: “Muito obrigado por este presente, meu amor… Durante 25 anos, sempre desejei comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, jamais ousei pedir!”
Sonho - Alessandro Brito
EU ACREDITO NO MEU SONHO!!! Cada um está onde quer estar, se estou hoje aqui da forma que estou ( e os mais chegados sabem) é porque as escolhas que fiz ontem, antes de ontem, semestre passado, ano passado... me trouxeram até aqui.
ACREDITO NO AMOR!!! Eu vivo pra ele, por ele, vivo a cuidar da metade que ficou, pois a outra metade partiu e me deixou incumbido dessa responsabilidade, que não é pouca.
ACREDITEI NAS PESSOAS!!! E acredito, muitos me estenderam a mão e renovaram minha esperança na espécia, e por vocês também que sigo em frente. Obrigado inúmeros, vocês sabem bem do que estou falando.
DESACREDITEI DAS PESSOAS!!! Ninguém tem obrigação de estender a mão a ninguém, por mais que achemos que elas tenham, aprendi mais uma lição.
TUDO QUE QUERO CONQUISTAR DEPENDE APENAS DO MEU ESFORÇO E DA SUA TORCIDA, OBRIGADO POR ESTAREM PARA SEMPRE COMIGO.
AOS LEAIS AMIGOS,
SANDRINHO.
P.S.: A corrida está apenas iniciando!!!
ACREDITO NO AMOR!!! Eu vivo pra ele, por ele, vivo a cuidar da metade que ficou, pois a outra metade partiu e me deixou incumbido dessa responsabilidade, que não é pouca.
ACREDITEI NAS PESSOAS!!! E acredito, muitos me estenderam a mão e renovaram minha esperança na espécia, e por vocês também que sigo em frente. Obrigado inúmeros, vocês sabem bem do que estou falando.
DESACREDITEI DAS PESSOAS!!! Ninguém tem obrigação de estender a mão a ninguém, por mais que achemos que elas tenham, aprendi mais uma lição.
TUDO QUE QUERO CONQUISTAR DEPENDE APENAS DO MEU ESFORÇO E DA SUA TORCIDA, OBRIGADO POR ESTAREM PARA SEMPRE COMIGO.
AOS LEAIS AMIGOS,
SANDRINHO.
P.S.: A corrida está apenas iniciando!!!
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Frase- Jacob do Bandolim
Não sou radical, sou só realistas, esses ídolos de hoje em dia são uns bananas, que quase nada oferece, continuo martelando na ideia:
"O POVO ANDA TÃO CARENTE DE REFERÊNCIAS QUE QUALQUER COISINHA MAIS OU MENOS JÁ É SUFICIENTE PARA IDOLATRAR".
TANTO É QUE QUALQUER SHOW OU PEÇA QUE SE ASSISTA HOJE EM DIA, NO FINAL TODOS APLAUDEM DE PÉ...
NUM FODE!!!!!!!
"O POVO ANDA TÃO CARENTE DE REFERÊNCIAS QUE QUALQUER COISINHA MAIS OU MENOS JÁ É SUFICIENTE PARA IDOLATRAR".
TANTO É QUE QUALQUER SHOW OU PEÇA QUE SE ASSISTA HOJE EM DIA, NO FINAL TODOS APLAUDEM DE PÉ...
NUM FODE!!!!!!!
domingo, 9 de fevereiro de 2014
TINA TURNER WE DONT NEED ANOTHER HERO MAD MAX III
Fora das ruínas,
No lado de fora dos escombros,
Não podemos cometer o mesmo erro desta vez.
Nós somos as crianças,
A última geração.
Nós somos aqueles que eles abandonaram para trás.
E eu me pergunto, quando nós vamos mudar,
Vivendo sob o medo, até que nada mais reste...
No lado de fora dos escombros,
Não podemos cometer o mesmo erro desta vez.
Nós somos as crianças,
A última geração.
Nós somos aqueles que eles abandonaram para trás.
E eu me pergunto, quando nós vamos mudar,
Vivendo sob o medo, até que nada mais reste...
Scorpions - Wind Of Change - HD- (Live Recife-Brasil - 2008)
Sempre irei me lembrar dela...
"Descendo pela rua
Recordações distantes
Enterradas no passado, para sempre..."
"Descendo pela rua
Recordações distantes
Enterradas no passado, para sempre..."
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Charles Bukowski
estamos com medo.
nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.
eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.
ou do terror de uma pessoa
sofrendo sozinha
num lugar qualquer
intocada
incomunicável
regando uma planta.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.
mas às vezes eu penso sobre
isso
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Presídio da Ilha Grande
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Soneto de Separação - Vinícius de Moraes
Expressar o amor, como o Poetinha expressou, jamais expressarã, jamais!
"...De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente..."
"...De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente..."
Martinho da Vila - Efeitos da Evolução
Eu na minha ignorância
Não consigo ignorar
De que vale a inteligência
Quando a tendência é má...
Não consigo ignorar
De que vale a inteligência
Quando a tendência é má...
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Castelo Rá Tim Bum - Polonaise - Paulo Leminski
"Aqui nessa pedra, alguém sentou para olhar o mar
O mar não parou para ser olhado
Foi mar pra tudo que é lado."
O mar não parou para ser olhado
Foi mar pra tudo que é lado."
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Cartas de amor - Rubem Alves
CARTAS DE AMOR
Leio e releio o poema de Álvaro de Campos. Oscilo. Não sei se devo acreditar ou duvidar. Se acredito, duvido. Duvido porque acredito. Pois foi ele mesmo quem disse – ou melhor, o seu outro, o Fernando Pessoa – que ele era um fingidor. "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas..."
Tenho no meu escritório a reprodução de uma das telas mais delicadas que conheço, Mulher lendo uma carta, de Johannes Vermeer (1632-1675). Uma mulher, de pé, lê uma carta. O seu rosto está iluminado pela luz da janela. Seus olhos lêem o que está escrito naquela folha de papel que suas mãos seguram, a boca ligeiramente entreaberta, quase num sorriso. De tão absorta, ela nem se dá conta da cadeira, ao seu lado. Lê de pé. Penso ser capaz de reconstituir os momentos que antecedem este que o pintor fixou. Pancadas na porta interromperam as rotinas domésticas que a ocupavam. Ela vai abrir e lá estava o carteiro, com uma carta na mão. Pela simples leitura do seu nome, no envelope, ela identifica o remetente. Ela toma a carta e, com este gesto, toca uma mão muito distante. Para isto se escrevem as cartas de amor. Não para dar notícias, não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel. Barthes cita estas palavras de Goethe:
Por que me vejo novamente compelido a escrever? Não é preciso, querida, fazer pergunta tão evidente, porque, na verdade, nada tenho para te dizer. Entretanto tuas mãos queridas receberão este papel...
Volto ao Álvaro de Campos. Será esta a razão do ridículo das cartas de amor – o descompasso entre o que elas dizem e aquilo que elas realmente querem fazer? Pois o propósito explícito de uma carta é dar notícias, e é por isto que elas são feitas de palavras. Mas o que elas realmente desejam realizar está sempre antes e depois da palavra escrita: elas querem realizar aquilo que a separação proíbe: o abraço. Quem quer que tente entender uma carta de amor pela análise da escritura estará sempre fora de lugar, pois o que ela contém é o que não está ali, o que está ausente. Qualquer carta de amor, não importa o que se encontre nela escrito, só fala do desejo, a dor da ausência, a nostalgia pelo reencontro.
Aquela carta fez tudo parar. A mulher fecha a porta e caminha pela casa sem nada ver, buscando uma coisa apenas, a luz, o lugar onde as palavras ficarão luminosas. Que lhe importa a cadeira? Esqueceu-se de que está grávida. Seus olhos caminham pelas palavras que saíram das mesmas mãos que a abraçaram. Seu corpo está suspenso naquele momento mágico de carinho impossível que aquele pequeno pedaço de papel abriu no tempo do seu cotidiano.
Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões. A mulher está só. Se há outras pessoas na casa, ela as deixou. Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas não sejam nenhum segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor, ela tem de ser lida em solidão. Como se o amante estivesse dizendo: "Escrevo para que você fique sozinha...". É este ato de leitura solitária que estabelece a cumplicidade. Pois foi da solidão que a carta nasceu. A carta de amor é o objeto que o amante faz para tornar suportável o seu abandono.
Olho para o céu. Vejo a Alfa Centauro. Os astrônomos me dizem que a estrela que agora vejo é a estrela que foi, há dois anos. Pois foi este o tempo que sua luz levou para chegar até os meus olhos. O que eu vejo é o que não mais existe. E será inútil que eu me pergunte: "Como será ela agora? Existirá ainda?". Respostas a estas perguntas eu só vou conseguir daqui a dois anos, quando a sua luz chegar até mim. A sua luz está sempre atrasada. Vejo sempre aquilo que já foi... Nisto as cartas se parecem com as estrelas. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz sobre o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os seus braços para um momento que não mais existe. A carta de amor é um abraçar do vazio...
"Ainda bem que o telefone existe", retrucarão os namorados modernos, que não mais têm de viver o amor no espaço das ausências. Engano. Um telefonema não é uma carta falada. Pois lhe falta o essencial: o silêncio da solidão, a calma da caneta pousada sobre a mesa que espera e escolhe pensamentos e palavras. O telefone põe a solidão a perder. Num telefonema a gente nunca diz aquilo que se diria numa carta. Por exemplo: "Eu ia andando pela rua quando, de repente, vi um ipê-rosa florido que me fez lembrar aquela vez...". Ou: "Relendo os poemas de Neruda encontrei este que, imagino, você gostará de ler...".
A diferença entre a carta e o telefone é simples. O telefone é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. E, uma vez terminado, os dois amantes estão de mãos vazias.
Mas a mulher tem nas mãos uma carta. A carta é um objeto. Se não tivesse podido recolher-se à sua solidão, ela poderia tê-la guardado no bolso, na deliciosa espera do momento oportuno. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida. Ou simplesmente acariciada. Uma carta contra o rosto – poderá haver coisa mais terna? Uma carta é mais que uma mensagem. Mesmo antes de ser lida, ainda dentro do envelope fechado, tem a qualidade de um sacramento: presença sensível de uma felicidade invisível...
Estes pensamentos me vieram depois de ler as cartas de um jovem cientista, Albert Einstein, à sua amada, Mileva Maric'. Foram elas que me fizeram ir ao poema do Álvaro de Campos: ridículas. Todas as cartas de amor são ridículas. Acho que os editores pensaram o mesmo. E como desculpa para o seu gesto indiscreto de tornar público o ridículo que era segredo de dois amantes, escreveram uma longa e erudita introdução que transformou as ridículas cartas de amor em documentos da história da ciência. Valem porque, misturadas ao ridículo de que os amantes se alimentam, se encontram pistas que dão aos historiadores as chaves para a compreensão das "fontes do desenvolvimento emocional e intelectual dos correspondentes". Não sabendo o que fazer com o amor (ridículo), colocaram-nas na arqueologia da ciência.
Foi então que o quadro de Vermeer me fez ver a cena que as cartas escondem. E a mulher com a carta na mão e uma criança na barriga? Ela bem que poderia ser Mileva, grávida de uma filha ilegítima, que foi dada para adoção, e sobre quem nada se sabe. A criança foi dada. Mas as cartas foram guardadas. E que razões poderia ter uma pessoa para guardar cartas ridículas? O seu rosto absorto e os lábios entreabertos nos dão a resposta: para aqueles que amam as ridículas cartas de amor são sempre sublimes.
Volto ao poema do Álvaro de Campos e encontro lá o que faltava para fechar a cena: "Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor são ridículas".
Leio e releio o poema de Álvaro de Campos. Oscilo. Não sei se devo acreditar ou duvidar. Se acredito, duvido. Duvido porque acredito. Pois foi ele mesmo quem disse – ou melhor, o seu outro, o Fernando Pessoa – que ele era um fingidor. "Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas..."
Tenho no meu escritório a reprodução de uma das telas mais delicadas que conheço, Mulher lendo uma carta, de Johannes Vermeer (1632-1675). Uma mulher, de pé, lê uma carta. O seu rosto está iluminado pela luz da janela. Seus olhos lêem o que está escrito naquela folha de papel que suas mãos seguram, a boca ligeiramente entreaberta, quase num sorriso. De tão absorta, ela nem se dá conta da cadeira, ao seu lado. Lê de pé. Penso ser capaz de reconstituir os momentos que antecedem este que o pintor fixou. Pancadas na porta interromperam as rotinas domésticas que a ocupavam. Ela vai abrir e lá estava o carteiro, com uma carta na mão. Pela simples leitura do seu nome, no envelope, ela identifica o remetente. Ela toma a carta e, com este gesto, toca uma mão muito distante. Para isto se escrevem as cartas de amor. Não para dar notícias, não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel. Barthes cita estas palavras de Goethe:
Por que me vejo novamente compelido a escrever? Não é preciso, querida, fazer pergunta tão evidente, porque, na verdade, nada tenho para te dizer. Entretanto tuas mãos queridas receberão este papel...
Volto ao Álvaro de Campos. Será esta a razão do ridículo das cartas de amor – o descompasso entre o que elas dizem e aquilo que elas realmente querem fazer? Pois o propósito explícito de uma carta é dar notícias, e é por isto que elas são feitas de palavras. Mas o que elas realmente desejam realizar está sempre antes e depois da palavra escrita: elas querem realizar aquilo que a separação proíbe: o abraço. Quem quer que tente entender uma carta de amor pela análise da escritura estará sempre fora de lugar, pois o que ela contém é o que não está ali, o que está ausente. Qualquer carta de amor, não importa o que se encontre nela escrito, só fala do desejo, a dor da ausência, a nostalgia pelo reencontro.
Aquela carta fez tudo parar. A mulher fecha a porta e caminha pela casa sem nada ver, buscando uma coisa apenas, a luz, o lugar onde as palavras ficarão luminosas. Que lhe importa a cadeira? Esqueceu-se de que está grávida. Seus olhos caminham pelas palavras que saíram das mesmas mãos que a abraçaram. Seu corpo está suspenso naquele momento mágico de carinho impossível que aquele pequeno pedaço de papel abriu no tempo do seu cotidiano.
Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões. A mulher está só. Se há outras pessoas na casa, ela as deixou. Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas não sejam nenhum segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor, ela tem de ser lida em solidão. Como se o amante estivesse dizendo: "Escrevo para que você fique sozinha...". É este ato de leitura solitária que estabelece a cumplicidade. Pois foi da solidão que a carta nasceu. A carta de amor é o objeto que o amante faz para tornar suportável o seu abandono.
Olho para o céu. Vejo a Alfa Centauro. Os astrônomos me dizem que a estrela que agora vejo é a estrela que foi, há dois anos. Pois foi este o tempo que sua luz levou para chegar até os meus olhos. O que eu vejo é o que não mais existe. E será inútil que eu me pergunte: "Como será ela agora? Existirá ainda?". Respostas a estas perguntas eu só vou conseguir daqui a dois anos, quando a sua luz chegar até mim. A sua luz está sempre atrasada. Vejo sempre aquilo que já foi... Nisto as cartas se parecem com as estrelas. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz sobre o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os seus braços para um momento que não mais existe. A carta de amor é um abraçar do vazio...
"Ainda bem que o telefone existe", retrucarão os namorados modernos, que não mais têm de viver o amor no espaço das ausências. Engano. Um telefonema não é uma carta falada. Pois lhe falta o essencial: o silêncio da solidão, a calma da caneta pousada sobre a mesa que espera e escolhe pensamentos e palavras. O telefone põe a solidão a perder. Num telefonema a gente nunca diz aquilo que se diria numa carta. Por exemplo: "Eu ia andando pela rua quando, de repente, vi um ipê-rosa florido que me fez lembrar aquela vez...". Ou: "Relendo os poemas de Neruda encontrei este que, imagino, você gostará de ler...".
A diferença entre a carta e o telefone é simples. O telefone é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. E, uma vez terminado, os dois amantes estão de mãos vazias.
Mas a mulher tem nas mãos uma carta. A carta é um objeto. Se não tivesse podido recolher-se à sua solidão, ela poderia tê-la guardado no bolso, na deliciosa espera do momento oportuno. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida. Ou simplesmente acariciada. Uma carta contra o rosto – poderá haver coisa mais terna? Uma carta é mais que uma mensagem. Mesmo antes de ser lida, ainda dentro do envelope fechado, tem a qualidade de um sacramento: presença sensível de uma felicidade invisível...
Estes pensamentos me vieram depois de ler as cartas de um jovem cientista, Albert Einstein, à sua amada, Mileva Maric'. Foram elas que me fizeram ir ao poema do Álvaro de Campos: ridículas. Todas as cartas de amor são ridículas. Acho que os editores pensaram o mesmo. E como desculpa para o seu gesto indiscreto de tornar público o ridículo que era segredo de dois amantes, escreveram uma longa e erudita introdução que transformou as ridículas cartas de amor em documentos da história da ciência. Valem porque, misturadas ao ridículo de que os amantes se alimentam, se encontram pistas que dão aos historiadores as chaves para a compreensão das "fontes do desenvolvimento emocional e intelectual dos correspondentes". Não sabendo o que fazer com o amor (ridículo), colocaram-nas na arqueologia da ciência.
Foi então que o quadro de Vermeer me fez ver a cena que as cartas escondem. E a mulher com a carta na mão e uma criança na barriga? Ela bem que poderia ser Mileva, grávida de uma filha ilegítima, que foi dada para adoção, e sobre quem nada se sabe. A criança foi dada. Mas as cartas foram guardadas. E que razões poderia ter uma pessoa para guardar cartas ridículas? O seu rosto absorto e os lábios entreabertos nos dão a resposta: para aqueles que amam as ridículas cartas de amor são sempre sublimes.
Volto ao poema do Álvaro de Campos e encontro lá o que faltava para fechar a cena: "Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor são ridículas".
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