quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fotografia - Alessandro Brito

As fotos do meu perfil (as mais trabalhadas dessa rede social) são de fato as mais toscas. Mas não é para chamar a atenção, longe disso, essas fotos sou eu quase que "in natura" não gosto de registar o que não é meu, nem o que não sou eu. (Foi aí onde me identifiquei com o texto "Recordação" do colunista Antonio Prata - Folha de S. Paulo).

Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/112455-recordacao.shtml


As pessoas não entendem muito bem o porque de eu tirar tantas fotos "toscas"...

Se elas entendessem que vislumbro lá na frente, quando os anos passarem... Me entenderiam e certamente iniciaria-se uma competição de quem tira mais foto "tosca".

Acho que tenho essa visão justamente por não ter fotos de minha infância.

Fotos jogando futebol no campo (que não existe mais) ou correndo nas ruas de terra (que hoje estão asfaltadas) putz, descendo de rolimã aquela puta ladeira de "Beverllyders"...

Eu matei muitas e muitas aulas para ir no Seu Toninho (falecido) jogar fliperama (Street Figther I, Final Figther, Mortal Kombat I, Dinossauro Cadilac e claro Campeonato brasilerio) depois assumido por sua esposa Dona Cida, eu passei dias dentro daquele lugar, e não tenho uma foto se quer. Alguns dos que por lá jogavam, partiram prematuramente, tenho vagas lembranças deles...


Fico realmente chateado por não ter foto da Joguinha (Axis 90 Yamaha o ano era 1994) formou-se um grupinho que acreditem, gastava 2 tanques de gasolina num sab, época em que a gasolina custava R$0,80 centavos, percorríamos todos os bairros de SBC, Acordei diversas vezes as 4:30 para ir até parque Espacial ver o sol nascer, era incrível! Não tenho uma foto se quer dessas pessoas, muito embora ainda tenha contato com muitas delas.


Dos velhos amigos do meu pai que já se foram também não tenho fotos... Eles são lendários pra mim.

Eram a minha Liga da justiça, em sua maioria nordestinos cheios de histórias para contar, eu realmente pirava na batatinha com eles. Fosse no bar na mesa de sinuca, fosse nos cassinos clandestinos madrugada a fora, tinha o "DIM" o "Zé Preto" (que ouvia Amado batista 24 hs) meu padrinho "Bigode" o "TÉTÉ" o Zé Luiz" nem queiram saber quem eram estes rs.
Estes apesar dos anos ainda estão bem vivos na minha memória.


Eu mesmo, de molets, óculos e muita elegância! ui
Ai ai ai e as roupas que usava? Quase um surfista, sem prancha nem mar. Ok tudo bem, também passou, nem tudo é pra lamentar. rs
E os cortes de cabelo? O Isaac (falecido) dizia: "Qué talco ou qué que muí?", o danado ainda batia um fut, também não tenho fotos...
Não sinto saudades do barraco de madeira que morei por muitos anos (onde fui feliz pra caraleoooooooo)... Mas trago como uma doce recordação de que tudo na vida passa.

Não tenho fotos com meus tios, nem avós, nem os parceiros que me acompanham até hoje, ao menos daquela época não.


Não tenho fotos da escola...


"E.E.P.S.G. Jornalista Vladimir Herzog

Hoje o dia está ensolarado"

Poxa, nos plantamos um jardim na frente de toda a escola... Caraca, nem uma fotinho desses dias... Professor Orlando, nem uma fotinho também, ele nos ensinou a fazer conta no ábaco, cala bocaaaaaaaaa, mestre dos mestres!!!!!!!

Foram 11 anos na mesma escola (1 serie ao 3 ano do colegial, e era essa a nomenclatura da época rs, e nada de fotos...

Enfim... hoje tenho fotos, em todos os lugares, com todos os cortes (e barbas) com todos amigos, no luxo e no lixo, mas se as registros é porque elas são "eu". rs


Como diria Fernando (habbs ou Guedaro, o terror das garçonetes):

"Foto é um pedacinho da eternidade"...

Segue o texto que me fez refletir por uns instantes a respeito das fotos que eu não tirei.



Recordação


'Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não?'


"Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado", ele disse, me olhando pelo retrovisor. Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora para percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio, aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado".


Meu espanto, contudo, não durou muito, pois ele logo emendou: "Nunca vou esquecer: 1º de junho de 1988. A gente se conheceu num barzinho, lá em Santos, e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...".


Houve um breve silêncio, enquanto ultrapassávamos um caminhão de lixo e consegui encaixar um "Sinto muito". "Obrigado. No começo foi complicado, agora tô me acostumando. Mas sabe que que é mais difícil? Não ter foto dela." "Cê não tem nenhuma?" "Não, tenho foto, sim, eu até fiz um álbum, mas não tem foto dela fazendo as coisas dela, entendeu? Que nem: tem ela no casamento da nossa mais velha, toda arrumada. Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. Sabe o jeito que eu mais lembro dela? De avental. Só que toda vez que tinha almoço lá em casa, festa e alguém aparecia com uma câmera na cozinha, ela tirava correndo o avental, ia arrumar o cabelo, até ficar de um jeito que não era ela. Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano, mesmo. A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf. Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não? Tá acompanhando? Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?" "Isso."


"Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar." "E aí?!" "Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: Entra'. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação'."


Paramos num farol. Ele tirou a carteira do bolso, pegou a foto e me deu: umas 50 pessoas pelas mesas, mais umas tantas no balcão. "Olha a data aí no cantinho, embaixo." "1º de junho de 1988?" "Pois é. Quando eu peguei essa foto e vi a data, nem acreditei, corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não. Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? Vou morrer com essa dúvida. De qualquer forma, taí o testemunho: foi nesse lugar, nesse dia, tá fazendo 25 anos, hoje. Ali do lado da banca, tá bom pra você?"

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