terça-feira, 16 de novembro de 2010

Calem a boca, Nordestinos – José Barbosa Junior

Aos queridos detentores dos meios de produções que exploram e fazem da força de trabalho uma mercadoria geradora de lucros, o que seriam de vocês se não tivessem os nordestinos aqui no sudeste, heim?
Como poderiam andar de PorcheCayenne; morar em um flat; desfrutar de um belo iate ou ganhar R$80.000,00 mensais, se não tivessem os nordestinos que morrerão ganhando R$ 800,00 mensais para sustentar toda essa nojenta engrenagem?

Quanta ingratidão heim?!

(…)

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.


Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter:

“Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…dentre tantos outros…

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melodias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: – “Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

4 comentários:

  1. Adorei!
    Já estou bem caladinha rs...
    Beijos.
    Parabens pelo post.

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  2. Na música não se pode deixar de citar CAPIBA, NELSON FERREIRA, CLAUDIO ALMEIDA, EDGAR MORAES, LUIZ GUIMARÃES, GETÚLIO CAVALCANTI, DALVA TORRES, EXPEDITO BRACHO, CLAUDIONOR GERMANO, ARIMATÉA (flauta) BOZÓ (mestre Bozó) ADALBERTO CAVALCANTI, PETRUCIO AMORIM, IRAH CALDEIRA, tudo isso de Pernambuco ... é pouco ou querem mais.

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  3. NORDESTE INDEPENDENTE
    Composição : Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova
    Já que existe no sul esse conceito
    Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
    Já que existe a separação de fato
    É preciso torná-la de direito
    Quando um dia qualquer isso for feito
    Todos dois vão lucrar imensamente
    Começando uma vida diferente
    De que a gente até hoje tem vivido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    Dividindo a partir de Salvador
    O nordeste seria outro país
    Vigoroso, leal, rico e feliz
    Sem dever a ninguém no exterior
    Jangadeiro seria o senador
    O cassaco de roça era o suplente
    Cantador de viola o presidente
    O vaqueiro era o líder do partido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    Em Recife o distrito industrial
    O idioma ia ser nordestinense
    A bandeira de renda cearense
    "Asa Branca" era o hino nacional
    O folheto era o símbolo oficial
    A moeda, o tostão de antigamente
    Conselheiro seria o inconfidente
    Lampião, o herói inesquecido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    O Brasil ia ter de importar
    Do nordeste algodão, cana, caju
    Carnaúba, laranja, babaçu
    Abacaxi e o sal de cozinhar

    O arroz, o agave do lugar
    O petróleo, a cebola, o aguardente
    O nordeste é auto-suficiente
    O seu lucro seria garantido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    Se isso aí se tornar realidade
    E alguém do Brasil nos visitar
    Nesse nosso país vai encontrar
    Confiança, respeito e amizade
    Tem o pão repartido na metade,
    Temo prato na mesa, a cama quente
    Brasileiro será irmão da gente
    Vai pra lá que será bem recebido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    Eu não quero, com isso, que vocês
    Imaginem que eu tento ser grosseiro
    Pois se lembrem que o povo brasileiro
    É amigo do povo português
    Se um dia a separação se fez
    Todos os dois se respeitam no presente
    Se isso aí já deu certo antigamente
    Nesse exemplo concreto e conhecido
    Imagina o Brasil ser dividido
    E o nordeste ficar independente

    Povo do meu Brasil
    Políticos brasileiros
    Não pensem que vocês nos enganam
    Porque nosso povo não é besta

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  4. Só quem tem sangue nordestino é capaz de compreender a força que esse povo tem.

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