Este conto me foi enviado pela amada Elma em 20/05/2012
(foi seu primeiro conto)
Nina já estava atrasada, após um dia exaustivo no trabalho, cansada e com os cabelos em desalinho, lançou-se no trânsito caótico de São Paulo, já sabendo o que a esperava. Queria noite, queria barulho e vida acontecendo, sua happy hour, flertes e todos os pecados que sampa é capaz de proporcionar. Tirou o blazer, desabotoou dois botões de sua camisa de seda, ergueu um pouco sua saia de alfaiataria, colocou os Stones em alto e bom som e decidiu que apenas dessa vez não ia permitir que o stress a vencesse. Aquela fila enorme de carros, buzinas, motoqueiros avulsos e muita fumaça, não o suficiente para ofuscar seus olhos castanhos e famintos de um certo carro preto parado pouco atrás do seu. Pelo retrovisor ela se deliciava em observar o conteúdo: um homem alto, feições elegantes, um nariz afilado e grande, cabelos grisalhos e uma barba rala, que teimava em folgar sua gravata enquanto ajeitava seus óculos discretos. Ela automaticamente sorriu de lado e melhor acomodou-se no banco do carro, em vez de saliva em sua boca já fluía veneno, aquele seria presa fácil. Rapidamente borrifou perfume em seu pescoço, nuca, pulsos e, maliciosamente, entre suas pernas. Fitou o batom e passou-o vagarosamente por seus lábios, tão carmim quanto suas unhas. Sua força de pensamento não podia ser mais eficaz, já pronta e ouriçada não conteve a excitação ao ver que agora aquele homem estava bem do seu lado. Atiçada observou-o ainda mais, pôde reparar suas mãos grandes, pulsos largos, pele levemente bronzeada, um charmoso relógio no braço direito, camisa preta dobrada, com gola bem formada e uma tatuagem que insistia em aparecer por seus músculos. Ela nunca gostou tanto de ver um São Jorge na vida, e riu mais safada ainda. Presos pelo engarrafamento, decididamente olhou de lado e mordeu os lábios, baixando o vidro de seu carro, gesto igualmente feito pela outra parte. Ele já começou bem, elogiando aquele Rock Clássico e cumprimentando-a com a educação que lhe era peculiar. Ela respondeu a altura, sem exitar em cavar uma oportunidade e pedir uma indicação de um bom local para relaxar e esquecer aquela semana tormentosa. Rindo e com uma química absurda, ambos seguiram juntos, para o All Black, um insinuante pub paulista, ambiente propício para aquele encontro. Ao chegarem e após as devidas apresentações, a conversa inteligente que travaram foi regada a muita ironia, sarcasmo e aquele humor ácido. Entre dedos nos cabelos e cruzadas de pernas, ela o seduzia intensamente. E ela se rendia com aquele homem que falava enquanto passava a mão no queixo e a olhava fixo, como que devorando-a só com aqueles olhos negros, tentadores. Whisky com apenas três pedras de gelo, e o riso seguia frouxo. Instintivamente ele passou delicadamente a mão pelas coxas brancas e macias dela, mantendo o toque para sentir o quanto ficara arrepiada, e sua face ruborizada, não escondendo a excitação. Marcos, nome que ela adorava falar vagarosamente, era professor de Francês da USP, já tendo feito História da Arte e com dois livros publicados. Ela praticamente gozava só em ouvir aquele homem, no auge dos seus 35 anos, contar-lhe de suas viagens e paixões tórridas. Mais whisky, cascata afrodisíaca de camarões, e aquele perfume dele que incendiava seu corpo. Propositalmente ela roçou sua perna na dele, desculpando-se pelo deslize, sem esconder o riso de lado. Ele, sentindo-se desafiado, pediu licença e foi ao banheiro, não perdendo a oportunidade para cheirar a nuca dela, e sentir aquele corpo branco estremecendo, num calafrio intenso. Na quarta dose ele decidiu que era o momento, chamou o garçom e pediu a conta. Ela o acompanhou sem retrucar, para a glamourosa suite do Hilton Hotel, seus corpos pediam quatro paredes. Entraram no quarto, ele acomodou os pertences dela, e com a educação que lhe era nata guardou seu casaco e pediu uma garrafa de whisky, e muito gelo, muito. Ela visualizava o local, procurou de imediato o aparelho de som e tratou de colocar um bom e infalível Jazz, desmanchando-se no sax e naquela noite. Ele, sabiamente, não mostrava ansiedade, o que a deixava mais louca ainda. Sentou-se na cadeira, em frente a ela, serviu-lhe uma dose de whisky, e observou-a contorcer-se só com o seu olhar, apreciando aquele prazer adiado. Chegou mais perto, passou gelo nos lábios carnudos e vermelhos dela, e enquanto pingos de água escorriam ele tratou de beijá-la, delicadamente. O encaixe perfeito, bocas e línguas entrelaçadas, sincronizadas. Demoradamente ele a sugava, mordiscava seu queixo, deslizava sua mão na nuca e a puxava para si. Ela divagava no sabor da boca e na leveza do toque, já antevendo o por vir. Na dissolução do beijo ela restou ofegante, não contendo um suspiro, prenúncio de seus vários gemidos noturnos que ocorreriam. Ele continuava olhando-a fixo e sorriu de canto de boca, servindo-a outra dose. Sinatra e sua voz imponente contagiavam o ambiente, quando ele, compassado, a convida para dançar, beija sua mão e aperta sua cintura. Corpos colados, respirações fortes, perfumes misturados. Ele desliza as mãos pelas costas dela, e sussurra em seu ouvido: eu quero degustar você, completa e delicadamente. Ela estremece, respira quente no pescoço dele, ergue o rosto e responde: estou entregue. Imediatamente ele a gira, coloca-a em sua frente e dança assim, por trás dela, enquanto saboreia aquela nuca, e percorre todo aquele corpo cheio de curvas com suas mãos grandes, hábeis. Ameaça-lhe tocar os seios, ela treme e rebola sutil, esfregando-se nele, sentindo todo o desejo e a excitação daquele homem. Ele desabotoa a blusa dela, e a observa dançando solta. Ela com uma belíssima lingerie preta, toda de renda. E, claro, sempre com seus sapatos altos, mantendo suas pernas torneadas. E ela dança, e ri. Ele a olha. Ela, brincando de streep, retira a saia aos poucos, deixando-o salivando de desejo ao observar suas formas. Ele se aproxima, beija-lhe profundamente a boca, mordisca sua orelha e fala que ela é linda e perigosamente sedutora. Ela o olha fixo e mordisca o braço dele, arranhando as costas dele com as unhas. Morde o pescoço e vai abrindo a camisa dele botão por botão, enquanto beija-lhe o peitoral e sente todos os músculos daquele corpo moreno e tentador. Apenas solta o botão da calça, e ri safada, voltando a tomar sua dose e dançar solta, só lingerie e sapatos. Ele, com seu arco teso de paixão, segue-a instintivamente, a pega pelo braço e a acomoda na cama, por entre travesseiros e lençóis macios. Deita-se por cima dela e a beija, vorazmente. Ela se remexe e se ajeita na cama, procurando o perfeito encaixe de seus corpos. Ele pausa o beijo, olha fundo nos olhos dela, ri de lado e diz que vai descer, beijando-a. Ela sussurra um não tímido, sabendo ser este em vão. Ele cumpre o prometido e perde-se por entre as pernas dela, beijando-lhe as coxas, mordiscando-as. Lentamente afasta a calcinha, sem retirá-la, e lambe uma única vez, totalmente. Uma lambida com língua cheia e forte, sentindo o gosto dela. Aproxima sua cabeça, cheira aquela boceta rosada, e lambe mais uma vez, repetidamente. Lambe, enfiando seu rosto nela, apertando-lhe as coxas, devorando-a com a boca, e nariz. Esfrega seu queixo pelas coxas e bem nela, em cheio, arranhando-a com a barba mal feita, deixando que a pele mostre os sinais do desejo. Enquanto isso ela se contorce, aperta-lhe os ombros, gemendo muito e mordiscando os lábios. E ele intensifica com a língua, mordisca o clítoris e seus grandes lábios, mordisca e volta a chupar, lamber. Gira a língua lá dentro, fica louco ao sentir ela se desmanchar em seu poder, seu toque. Suga intenso sua boceta, lambendo firme, com língua aberta, apoderando-se dela como um todo. Levanta o olhar, observa-a com olhos fechados e lábios mordidos, totalmente entregue, e aprofunda a língua, comendo-a assim, com a ponta da língua forte, incisiva. Enquanto chupa enfia lentamente seu dedo indicador na boceta dela, girando suavemente, sentindo aquela correnteza de tesão escorrendo por sua boca. Ela geme alto e abre mais as pernas, entregando-se completamente àquelas mãos. E ele enfia todo o dedo e o mantém parado dentro dela, enquanto ela se remexe, doida de prazer. Ele gira o dedo, totalmente lá dentro, enquanto a chupa compulsivamente. Retira e enfia mais um dedo, penetrando e saindo assim, ininterruptamente, enquanto ela se contorce e ergue o quadril, abrindo totalmente as pernas, na iminência de atingir o gozo. Ele intensifica a língua e os dedos, girando a cabeça na boceta dela, chupando profundamente, quase como animal mesmo, lambuzando-se. E nessa voracidade, sente uma descarga elétrica tomar conta de todo o corpo dela, seguida de um gemido forte. O corpo dela se contorce bem na boca dele, e ele a escuta sussurrar seu nome, enquanto geme forte, gozando intensa. Ele suga tudo o que escorre dela, lambendo tudo, lambendo coxas, barriga, e toda a seiva que escorreu de sua boceta. Com boca lambuzada se aproxima dela e beija intensamente sua boca, aquecendo-lhe os lábios, fazendo-a sentir o próprio gosto. Ela puxa os dedos dele, os mesmo que há pouco estiveram em sua boceta e os chupa com sede, lambendo o queixo e beijando-lhe os lábios, 'animalmente'. Ela arranca as calças dele e despi-se totalmente. Ele afunda seus lábios em seus seios fartos. Mordisca e chupa o bico rosado, enfiando-os até quanto pode na boca. Se encaixa mais e roça seu corpo no dela, fazendo-a sentir toda sua excitação, fazendo-a delirar. Abre as pernas dela com suas próprias pernas e roça seu pau na boceta dela, contornando, sentindo. Ela ergue seu quadril e rebola, pra que ele a penetre assim, deslizando devagar. Remexendo ele se apodera dela, com todo seu pau espesso possuindo-a. Ela morde os ombros dele, em sinal de tesão. E ele rebola bem dentro dela, esfregando-se. Ela ergue as pernas e as abre mais, para que fiquem totalmente encaixados. Ele começa a entrar e sair, apoiando-se em seus braços fortes, mordendo a boca dela, o queixo e roçando sua barba nos seios dela. Nesse vai e vem ela morde sua língua e chupa sua boca, completa. Enquanto ele a fode sem parar, cada vez mais forte. Ela tenta se levantar mas ele a segura, só com uma mão, impedindo-a de realizar qualquer movimento. Ela levanta totalmente as duas pernas, pra que ele a coma totalmente. Ele fala o quanto ela é gostosa e morde-lhe novamente o queixo, trêmulo de tesão. Ela sutilmente vira de costas e empina a bunda, ficando de quatro na cama. Ele, com o instinto mais primitivo de todos, fode com mais força, agarrando os cabelos dela e passando barba na nuca, nas costas e nas covinhas que ela tem logo acima da bunda. Ela empina mais a bunda e rebola, enquanto ele mantém o pau parado na boceta dela. Os dois ficam assim, ela rebolando e sentindo, do seu jeito, a posse daquele homem. Urrando de desejo bem na orelha dela, corpos suados e respiração quente, ele goza bem dentro dela, quente e muito, deixando seu pau dentro, desfalecendo nas costas dela. E ela fica assim, com ele pesando em suas costas, sentindo o cheiro e o suor de ambos misturados. Ela fica assim enquanto se contorce, e ele já a olha desconfiado. Ela se afasta, o ajeita entre os travesseiros e vai tomar mais uma dose de whisky. Aproveita e, com um gelo em sua boca, começa a beijar molhado o pescoço dele. Ele ri de lado e duvida do que vê, mas aceita passionalmente. Ela se senta bem em cima dele e lhe beija sinuosamente, enquanto caminha com o gelo pelo corpo dele. Morde seu queixo, lambe seu pescoço todo e mordisca o peitoral. Olha bem safada pra ele, lambe os lábios e coloca todo o pau dele em sua boca, assim, de vez. Engole e fica com a boca parada, só girando a língua, sentindo-o endurecer na sua boca. Retira a boca e lambe todo o pau, desde embaixo. Lambe a virilha, contornando-o. Concentra-se na cabeça e a chupa, lentamente. Enquanto isso suas mãos percorrem as coxas grossas e morenas dele, apertando-as. Ela as abre mais e engole todo o pau dele, sugando forte, firme. Ele solta um gemido e seu corpo treme, e ela suga ainda mais firme. Suga e chupa, insistentemente. Retira a boca, olha pra ele e se diverte com sua cara sofrida de prazer, morde os lábios e o masturba com uma das mãos, segurando-o firme, deslizando facilmente no teso arco desse homem. Ela fica olhando pra todo seu corpo, doida de tesão, enquanto o masturba forte e o sente pulsando bem assim, na sua mão. Fica de quatro em cima da cama, bem diante dele e engole seu pau de novo, dessa vez chupando forte, sem mãos só boca. Chupa, suga, engole e gira a língua, enquanto rebola pra ele ver e urrar mais ainda de tesão. Chupa ainda mais forte, engolindo até onde aguenta. Pára a boca, concentra-se só na cabeça e gira a língua nela, sugando-a firme. Chupa forte e depois engole todo o pau, sugando e rebolando. Senta em uma das pernas dele e esfrega sua boceta enquanto o chupa, intensamente. Levanta os olhos e manda ele gozar assim, na boca dela. Volta a chupar forte, sentindo ele pulsando dentro dela, passando a língua e engolindo tudo. Ele geme alto e ela sente aquele pau latejando em sua boca, enchendo-a de um gozo forte e quente. Ela continua chupando, pra extrair até a última gota, deixando que escorra pelo seu queixo, seus seios. Enquanto ele treme de tesão, desmanchando-se na boca dela, seu gozo escorregue, farto. Ele a puxa para si e beija sua boca, profunda. Enquanto ambos desfalecem de desejo, sem dizerem uma palavra sequer apenas seguindo o instinto. E na lombra orgásmica esperam seus corpos esfriarem, para recomeçar tudo novamente .. Porque o desejo é um ciclo vicioso.
Minha lira tem um jeito de quem está perdido em um caminho sem volta, não há paredes, não há estradas, não há luz nem referentes, há apenas passos desvairados que me conduzem querendo voltar...
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Cuesta Abajo - Carlos Gardel
"...Se fui frouxo, se fui cego
Só quero que compreenda hoje
O valor representado pela coragem de amar
Era, para mim a vida inteira
Como um sol de primavera
Minha esperança e paixão,
Sabia, que no mundo não cabia
Toda a humilde alegria de meu pobre coração..."
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Babel e Sião - Luís Vaz de Camões
Sôbolos rios que vão
Por Babilônia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E, tudo bem comparado,
Babilônia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
Ali, lembranças contentes
Na alma se representaram;
E minhas cousas ausentes
Se fizeram tão presentes
Como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
Co rosto banhado em água,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado
Não é gosto, mas é mágoa.
E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal que depressa vem,
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.
Vi aquilo que mais vale,
Que então se entende milhor,
Quando mais perdido for;
Vi ao bem suceder mal
E, ao mal, muito pior.
E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento;
Vi nenhum contentamento,
E vejo-me a mim, que espalho
Tristes palavras ao vento.
Bem são rios estas águas
Com que banho este papel;
Bem parece ser cruel
Variedade de mágoas
E confusão de Babel.
Como homem que, por exemplo,
Dos transes em que se achou,
Despois que a guerra deixou,
Pelas paredes do templo
Suas armas pendurou:
Assim, depois que assentei
Que tudo o tempo gastava,
Da tristeza que tomei,
Nos salgueiros pendurei
Os órgãos com que cantava.
Aquele instrumento ledo
Deixei da vida passada,
Dizendo: — Música amada,
Deixo-vos neste arvoredo,
À memória consagrada.
Frauta minha que, tangendo,
Os montes fazíeis vir
Pra onde estáveis correndo,
E as águas, que iam descendo,
Tornavam logo a subir,
Jamais vos não ouvirão
Os tigres, que se amansavam;
E as ovelhas que pastavam,
Das ervas se fartarão
Que por vos ouvir deixavam.
Já não fareis docemente
Em rosa tornar abrolhos
Na ribeira florescente;
Nem poreis freio à corrente,
E mais se for dos meus olhos.
Não movereis a espessura,
Nem podereis já trazer
Atrás de vós a fonte pura,
Pois não pudestes mover
Desconcertos da ventura.
Ficareis oferecida
À Fama, que sempre vela,
Frauta de mim tão querida;
Porque, mudando-se a vida,
Se mudam os gostos dela.
Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança,
Amanhã já o não vejo:
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança
E de desejo em desejo.
Mas, em vida tão escassa,
Que esperança será forte?
Fraqueza de humana sorte,
Que quanto da vida passa
Está recitando a morte!
Mas deixar nesta espessura
O canto da mocidade!
Não cuide a gente futura
Que será obra da idade
O que é força da ventura.
Que idade, tempo, o espanto
De ver quão ligeiro passe,
Nunca em mim puderam tanto,
Que, posto que deixe o canto,
A causa dele deixasse.
Mas em tristezas e nojos,
Em gosto e contentamento,
Por sol, por neve, por vento,
Tendré presente á los ojos
Por quien muero tan contento.
Órgãos e frauta deixava,
Despojo meu tão querido,
No salgueiro que ali estava,
Que pera troféu ficava
De quem me tinha vencido.
Mas lembranças da afeição
Que ali cativo me tinha,
Me perguntaram então:
Que era da música minha
Que eu cantava em Sião?
Que foi daquele cantar
Das gentes tão celebrado?
Porque o deixava de usar?
Pois sempre ajuda a passar
Qualquer trabalho passado.
Canta o caminhante ledo
No caminho trabalhoso,
Por entre o espesso arvoredo;
E de noite o temeroso,
Cantando, refreia o medo.
Canta o preso docemente,
Os duros grilhões tocando;
Canta o segador contente,
E o trabalhador, cantando,
O trabalho menos sente.
Eu, que estas cousas senti
Na alma, de mágoas tão cheia,
Como dirá, respondi,
Quem alheio está de si
Doce canto em terra alheia?
Como poderá cantar
Quem em choro banha o peito?
Porque, se quem trabalhar
Canta por menos cansar,
Eu só descansos enjeito.
Que não parece razão
Nem parece cousa idônea,
Por abrandar a paixão,
Que cantasse em Babilônia
As cantigas de Sião.
Que, quando a muita graveza
De saudade quebrante
Esta vital fortaleza,
Antes moura de tristeza
Que, por abrandá-la, cante.
Que, se o fino pensamento
Só na tristeza consiste,
Não tenho medo ao tormento:
Que morrer de puro triste,
Que maior contentamento?
Nem na frauta cantarei
O que passo e passei já,
Nem menos o escreverei;
Porque a pena cansará
E eu não descansarei.
Que, se a vida tão pequena
Se acrescenta em terra estranha,
E se Amor assim o ordena,
Razão é que canse a pena
De escrever pena tamanha.
Porém se, pera assentar
O que sente o coração,
A pena já me cansar,
Não canse pera voar
A memória em Sião.
Terra bem-aventurada,
Se, por algum movimento,
Da alma me fores mudada,
Minha pena seja dada
A perpétuo esquecimento.
A pena deste desterro,
Que eu mais desejo esculpida
Em pedra ou em duro ferro,
Essa nunca seja ouvida,
Em castigo do meu erro.
E se eu cantar quiser,
Em Babilônia sujeito,
Hierusalém, sem te ver,
A voz, quando a mover,
Se me congele no peito.
A minha língua se apegue
Às fauces, pois te perdi,
Se, enquanto viver assi,
Houver tempo em que te negue
Ou que me esqueça de ti!
Mas, ó tu, terra de Glória,
Se eu nunca vi tua essência,
Como me lembras na ausência?
Não me lembras na memória,
Senão na reminiscência.
Que a alma é tábua rasa
Que com a escrita doutrina
Celeste tanto imagina,
Que voa da própria casa
E sobe à Pátria divina.
Não é logo a saudade
Das terras onde nasceu
A carne, mas é do Céu,
Daquela santa Cidade
De onde esta alma descendeu.
E aquela humana figura,
Que cá me pôde alterar,
Não é quem se há-de buscar:
É o raio da Fermosura
Que só se deve de amar.
Que os olhos e a luz que ateia
O fogo que cá sujeita,
— Não do sol, mas da candeia —
É sombra daquela idéia
Que em Deus está mais perfeita.
E os que cá me cativaram
São poderosos afeitos
Que os corações têm sujeitos;
Sofistas que me ensinaram
Maus caminhos por direitos.
Destes o mando tirano
Me obriga, com desatino,
A cantar, ao som do dano,
Cantares de amor profano
Por versos de amor divino.
Mas eu, lustrado co santo
Raio, na terra de dor,
De confusão e de espanto,
Como hei-de cantar o canto
Que só se deve ao Senhor?
Tanto pode o benefício
Da Graça, que dá saúde,
Que ordena que a vida mude:
E o que eu tomei por vício
Me faz grau pera a virtude.
E faz que este natural
Amor, que tanto se preza,
Suba da sombra ao real,
Da particular beleza
Pera a Beleza geral.
Fique logo pendurada
A frauta com que tangi,
Ó Hierusalém sagrada,
E tome a lira dourada
Pera só cantar de ti;
Não cativo e ferrolhado
Na Babilônia infernal,
Mas dos vícios desatado
E cá desta a ti levado,
Pátria minha natural.
E se eu mais der a cerviz
A mundanos acidentes,
Duros, tiranos e urgentes,
Risque-se quanto já fiz
Do grão livro dos viventes.
E, tomando já na mão
A lira santa e capaz
Doutra mais alta invenção,
Cale-se esta confusão,
Cante-se a visão da paz!
Ouça-me o pastor e o rei,
Retumbe este acento santo,
Mova-se no mudo espanto;
Que do que já mal cantei
A palinódia já canto.
A vós só me quero ir,
Senhor e grão Capitão
Da alta torre de Sião,
À qual não posso subir,
Se me vós não dais a mão.
No grão dia singular
Que na lira o douto som
Hierusalém celebrar,
Lembrai-vos de castigas
Os ruins filhos de Edom.
Aqueles que tintos vão No pobre sangue inocente,
Soberbos co poder vão,
Arrasai-os igualmente,
Conheçam que humanos são.
E aquele poder tão duro
Dos afeitos com que venho,
Que incendem a alma e engenho;
Que já me entraram o muro
Do livre alvídrio que tenho;
Estes, que tão furiosos
Gritando vêm a escalar-me,
Maus espíritos danosos,
Que querem como forçosos
Do alicerce derrubar-me,
Derrubai-os, fiquem sós,
De forças fracos, imbeles;
Porque não podemos nós
Nem com eles ir a Vós,
Nem sem Vós tirar-nos deles.
Não basta minha fraqueza
Pera me dar defensão,
Se Vós, santo Capitão,
Nesta minha fortaleza
Não puserdes guarnição.
E tu, ó carne que encantas,
Filha de Babel tão feia,
Toda de misérias cheia,
Que mil vezes te levantas
Contra quem te senhoreia,
Beato só pode ser
Quem com a ajuda celeste
Contra ti prevalecer,
E te vier a fazer
O mal que lhe tu fizeste;
Quem com disciplina crua
Se fere mais que uma vez,
Cuja alma, de vícios nua,
Faz nódoas na carne sua,
Que já a carne na alma fez
E beato quem tomar
Seus pensamentos recentes
E em nascendo os afogar,
Por não virem a parar
Em vícios graves e urgentes;
Quem com eles logo der
Na pedra do furor santo
E, batendo, os desfizer
Na Pedra, que veio a ser
Enfim cabeça do Canto;
Quem logo, quando imagina
Nos vícios da carne má,
Os pensamentos declina
Àquela carne divina
Que na Cruz esteve já;
Quem do vil contentamento
Cá deste mundo visível,
Quanto ao homem for possível,
Passar logo o entendimento
Pera o mundo inteligível,
Ali achará alegria
Em tudo perfeita e cheia
De tão suave harmonia,
Que nem, por pouca, escasseia,
Nem, por sobeja, enfastia.
Ali verá tão profundo
Mistério na suma Alteza,
Que, vencida a Natureza,
Os mores faustos do Mundo
Julgue por maior baixeza.
Ó tu, divino aposento,
Minha Pátria singular,
Se só com te imaginar
Tanto sobe o entendimento,
Que fará, se em ti se achar?
Ditoso de quem se partir
Pera ti, terra excelente,
Tão justo e tão penitente,
Que, despois de a ti subir,
Lá descanse eternamente!
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Amigos - Vinicius de Moraes
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outro s afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outro s afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Frase - Alessandro Brito
Sim, eu tenho medo, tenho sim, mas as borboletas que sinto no estômago ao arriscar, me tiram do chão.
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