sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Amizade - Autor desconhecido

"A amizade madura é bem diferente daquela que eu imaginava anos atrás.
Eu, na minha infantilidade, pensava que amizade era estar sempre próxima, falar com frequência, dividir todas as estações.
E que surpresa boa descobrir que não necessariamente é assim.
A amizade madura, por vezes, é justamente o oposto.
Ela é livre de cobranças, não tem o peso das obrigações da vida.
A amizade madura escuta "já te ligo, ocupadíssima agora."
E a ligação é retomada 9 dias depois.
A amizade madura mantém contato diário ou some por anos.
Ela pode estar no reencontro inesperado "cara que saudades, casei, tive filhos e você?"
A amizade madura sabe que há épocas na vida onde você dá, dá, dá, e outras onde você recebe, recebe, recebe.
Mas que no final das contas, na longa jornada, a balança se alinha.
Porque a amizade madura se entende. No consolo, na risada, na ausência, no abraço, no puxão de orelha.
Amizade madura é gostosa, fácil de levar.
A amizade madura está no "pô que sacanagem, por que você fez isso?"
E também no "desculpa, pisei na bola".
A amizade madura pode perdoar instantaneamente ou precisar de alguns anos para sarar.
A amizade madura mora na mensagem depois de tempos sem se falar "ei, sonhei com você, tá tudo bem?"
A amizade madura respeita as diferentes fases da vida.
Há amigas com filhos, amigas solteiras, amigas focadas na carreira.
A amizade madura é aquela que revive recordações cada vez que se encontram:
"Lembra aquela vez quando a gente __?"
E as risadas rolam soltas e viram lágrimas de riso.
A amizade madura pode ser reservada, mas pode atingir níveis astronômicos de intimidade:
"Lembra quando fiquei sem grana até pra comprar pão?"
A amizade madura se entrelaça na sua história, se mistura com sua essência.
É especial porque é a mais livre dos arbítrios.
É escolher manter no coração alguém que se não fosse pela amizade, seria apenas mais um estranho destes que a gente vê no cruzamento.
Sim, a amizade madura é uma escolha, sem interesses, sem segundas intenções ou lenga lenga.
É uma decisão nossa, íntima.
E é isso que faz dela tão forte que nem o tempo, nem a distância, e nem as curvas da vida conseguem apagar."

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Poema - Múcio Góes

I.
Gargalhou o riso sujo de quem faz ode às tripas da alma. Sempre preferiu quem não se reduz a casca de pele e ossos que nos cerca.
II.
Eu não sei quantas vezes mais vou ter que dizer que é a última vez que te digo que não há vergonha alguma em ser o que é. Essa alma suja também é coisa humana, por que você se reduz a esse amontoado de músculos enrijecidos? Deixa ser o gosto da tua pele suada, os pés sujos de sangue e deixa ser o cheiro de teu gozo contido.
Cresce em ti uma trepadeira praguenta, e você perde o tempo da poda. Centímetro por centímetro, a raiz de tua alma apodrece enquanto você se ocupa com o resto do mundo. O cheiro azedo de teus dias impregnam nas narinas, dá coceira, dá um incômodo na ponta da coluna onde seus por quês misturam-se com esse eco vazio.
Por que esvaziar teus espaços em branco?
Por que esbranquiçar seus espaços vazios?
Tua sujeira é tua.
Cuide bem dela.
III.
Pela última vez, lavou as mãos em praça pública, para que todos vissem que sua imundice pertencia ao mundo todo.

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