quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio

Quase todas as grandes famílias musicais têm heróis assim. Alguém que sem perder o contacto com a raiz fundadora de determinada tipologia musical é capaz de expandir o seu leque de influências, acabando por universalizar essa linguagem.

O flamenco teve a sorte de ter o guitarrista, compositor e produtor Paco de Lucía, que morreu esta quarta-feira, aos 66 anos, de enfarte cardíaco. Estava na praia com os filhos, em Cancún, no México, onde tinha uma casa, quando se sentiu indisposto, vindo a morrer a caminho do hospital.

Ele foi esse músico que sem perder o contacto com a essência, foi capaz de mesclar o flamenco com outras sonoridades, principalmente com o jazz ou a bossa nova, embora os blues, a salsa, a música hindú ou a música árabe também o tenham marcado. Mas não foi apenas porque revestiu exteriormente o flamenco que se tornou imortal. Nunca é apenas por isso.

É também, e talvez ainda mais importante, porque possuía o alento interior, a inspiração, que lhe inflamava a alma, passando essa intensidade para os dedos e a guitarra de seis cordas que dedilhava como ninguém. Em Portugal, onde actuou por diversas vezes (a última das quais em 2007) era vê-lo, sentado, perna traçada, curvado sobre a sua guitarra, ora introspectivo, ora dinâmico e agitado, mas sempre apaixonado.

Como todos os grandes heróis populares transcendeu fronteiras e estilos. Também tinha, como acontece sempre nestes casos, detractores, que o acusaram de abastardar o flamenco, quando o começou a mesclar com jazz. Ele levava sempre consigo a cultura da Andaluzia e o flamenco, mas o seu olhar tinha dimensão universal. Ao longo dos anos transformou-se no mais internacionalmente reconhecido intérprete do flamenco.

“Nunca perdi a ligação com as raízes na minha música”, afirmou numa entrevista na década de 1990. “O que tentei fazer foi situar-me na tradição e, ao mesmo tempo, procurar noutros territórios, procurar coisas novas para transportar para o flamenco.” Anos mais tarde reafirmaria essa ideia. "Não tenho medo que se perca a essência do flamenco", declarou em Agosto de 2004, depois de receber o Prémio Príncipe das Astúrias, distinção maior das artes e da cultura em Espanha. "Um guitarrista tem de ter mais do que ritmo, tem de ter ar. Ar é fundamental", declarou na mesma entrevista.



Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-o-guitarrista-paco-de-lucia-1626231#/0

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