quinta-feira, 31 de maio de 2012

Busca - Fabio Jr

Estar sozinho é um caminho pra esta busca
Que quando ofusca é porque eu não sei como agir
Fugir não aceito, nem meu peito aceitaria
Durante o dia coração é pra sorrir
A noite vem, eu sei que é muito mais difícil
É feito um míssil, em pleno céu na noite escura
E esta procura é eterna dia, noite e madrugada
E não há nada que dissolva esta tortura, nada
E o coração se encanta por toda pessoa
Que numa boa, saiba como me tocar
Porque ele sabe que precisa de carinho
Também preciso, mas não quero me entregar
E eu não me entrego, porque eu nego envolvimento
É só o momento não é tão sério pra eu pensar
Que esta vez será pra sempre vai dar certo
Porque o deserto é meu e eu vou atravessar
E atravessando eu vou encontrar uma cidade
Onde a felicidade irá me procurar
Porque ele sabe que eu já procurei por ela
e essa pessoa, essa mulher vai me encontrar

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Consciência - Friedrich Nietzsche, in 'A Gaia Ciência'

 A consciência é a última fase da evolução do sistema orgânico, por consequência também aquilo que há de menos acabado e de menos forte neste sistema. É do consciente que provém uma multidão de enganos que fazem com que um animal, um homem, pereçam mais cedo do que seria necessário, «a despeito do destino», como dizia Homero.
Se o laço dos instintos, este laço conservador, não fosse de tal modo mais poderoso do que a consciência, se não desempenhasse, no conjunto, um papel de regulador, a humanidade sucumbiria fatalmente sob o peso dos seus juízos absurdos, das suas divagações, da sua frivolidade, da sua credulidade, numa palavra do seu consciente: ou antes, há muito tempo que teria deixado de existir sem ele!Enquanto uma função não está madura enquanto não atingiu o seu desenvolvimento perfeito, é perigosa para o organismo: é uma grande sorte que ela seja bem tiranizada! A consciência é-o severamente, e não é ao orgulho que o deve menos. Pensa-se que este orgulho forma o núcleo do ser humano; que é o seu elemento duradoiro, eterno, supremo, primordial! Considera-se que o consciente é uma constante! Nega-se o seu crescimento, as suas intermitências! É considerado como «a unidade do organismo»! Sobrestima-se, desconhece-se ridiculamente, aquilo que teve a consequência eminentemente útil de impedir o homem de realizar o seu desenvolvimento com demasiada rapidez. Julgando possuir a consciência, os homens pouco se esforçaram para a adquirir; e hoje ainda estão nisso! Trata-se ainda de uma tarefa eminentemente actual, que o olho humano começa apenas a entrever, a de se incorporar o saber, de o tornar instintivo no homem; uma tarefa de que só se dão conta aqueles que compreenderam que até aqui o homem só incorporou o erro, que toda a nossa consciência se relaciona com ele.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Trilha sonora do Auto da Compadecida -Antúlio Madureira tocando Cabala

A-M-O-R Amor - Paulinho da Viola

A-M-O-R Amor
Aprendi soletrar: AMEI
Chorei sem aprender com ninguém
Quem aprende a amar
Aprende a chorar também
Na escola do teu amor
Passei por vários exames
Passei pela prova da dor e da tristeza
Passei pela prova do vexame
Hoje com o primário concluído
Um pouco mais instruído
Admissão vou estudar
Em caso de traição
Eu saberei deprezar

Não foi ela - Zeca Pagodinho


Não foi ela
foi a saudade que bateu
foi aquela
velha emoção que renasceu
foi a vida e seus muitos enganos
que depois de tantos anos
fez ela se dignar me procurar
foi o rio
sempre correndo para o mar
foi o frio
que fez seu corpo arrepiar
na saudade das noites de outrora
onde o vento lá de fora
aqui dentro é o calor (de um grande amor)
só agora é que teve a certeza
que entre receita e despeza
o saldo foi devedor
só agora é que teve a certeza
que entre receita e despeza
o saldo foi devedor
nunca se deve pesar
com a mesma medida
dois pesos de vida desiguais
muito melhor é lutar
do que viver deitado
num berço dourado
na mais santa paz
foi por isso que ela agora
sentindo o frio lá fora
bateu na minha janela
sem saber que a vida incerta
conservou minha porta aberta
sempre esperando por ela
sem saber que a vida incerta
concervou minha porta aberta
sempre esperando por ela.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Castelo - Instituto Ricardo Brennand


Sem dúvida o lugar mais incrível que eu conheci... Gostaria de um dia voltar com todos os meus amigos...

http://www.institutoricardobrennand.org.br/index2.html




Porto Solidão - Jessé


Todos nós sem exceção, buscamos nosso porto seguro em nossas vidas, enfrentamos algumas tempestades, recebendo verdadeiras saraivadas do mar, alguns aprendem a se fortalecer com estas saraivadas, enquanto outros se deixam levar pelas ondas, deixando se afogar, sem muita força pra lutar... Nesse mesmo mar da vida, navegamos em algumas aventuras... Porém, nesse imenso mar da vida, por vezes cruel, traiçoeiro e incerto, há apenas uma certeza, a de que queremos atracar e ancorar em algum coração, para sempre.

sábado, 26 de maio de 2012

FRASE - ANÔNIMO

A MÚSICA ROMÂNTICA NÃO CAIU DE MODA, APENAS A MÍDIA DIVULGA O BARULHO ENSURDECEDOR QUE FAZ A EUFORIA, MAS NÃO DÁ A PAZ NECESSÁRIA AOS OUVIDOS EXIGENTES. 

Quero Ser Seu Amigo - Benito Di Paula (Ao Vivo/2009)


Se você precisar de um amigo, pode me procurar
Se você precisar de uma ajuda, também posso ajudarSe você precisar de um conselho, vem vamos conversarMas não fale outra vez de amor, que eu não vou suportar
É melhor, hoje eu sei que é melhorSer amigos que amantesPois você deve compreender Que sofremos bastanteSe o amor não valeu não faz mal, vê se escuta o que eu digoDê valor, pois a vida é real, quero ser seu amigo

quarta-feira, 23 de maio de 2012

IMPETUOSA - ROBERTO RIBEIRO


Vai, impetuosa
Vai desarrumar um outro lar feliz
Leve as armadilhas e as tentações
Pois o seu destino é destruir os corações
Vai, vitoriosa
Já não existe a paz que você tanto viu
Morreram as alegrias, desejos e paixões
Agora só restou desilusões
Não, não vou chorar, deixar a vida me engolir
Sou fraco bem sei, mas vou reagir
Você é como um gelo que refresca e se desfaz
O tempo apaga as desilusões
O tempo devolve as ilusões.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Devolvi - Núbia Lafayette e Nelson Gonçalves


Essa é "especial"...

Devolvi o cordão e a medalha de ouro,
E tudo que ela me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,.
E as juras mentirosas,
Com que ela me enganou.
Devolvi a aliança e tambem seu retrato
Para não ver o seu sorriso
no silêncio do meu quarto.

Nada quis guardar como lembrança,
Prá não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo
Só não pude devolver
A saudade cruciante
Que amargura meu viver.

Devolvi a aliança e tambem seu retrato.
Para não ver seu sorriso
No silêncio do meu quarto.
Nada quie guardar como lembrança.
Para não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo,
Sá não pude devolver,
A saudade cruciante,
Que amargura meu viver.......

Madrugadas de Narciso - Capinan





Encalho nas madrugadas as minhas velas em farrapos
Sou eu mesmo os marinheiros
Sou eu mesmo a cabotagem
Sou eu quem traça os portos do roteiro
E torna em desespero a bússola da viagem

Naufrago nas madrugadas
Mas eu mesmo me faço nadar em vão até as mais longínquas praias
Sou eu a maresia, a calmaria e a tempestade
Sou eu mesmo a terra à vista
Inalcançável

Augusto de Campos


Se Ela Quisesse- Toquinho e Vinícius de Moraes


Se ela tivesse
A coragem de morrer de amor
Se não soubesse
Que a paixão traz sempre muita dor
Se ela me desse
Toda devoção da vida
Num só instante
Sem momento de partida


Pudesse ela me dizer
O que eu preciso ouvir
Que o tempo insiste
Porque existe um tempo que há de vir
Se ela quisesse, se tivesse essa certeza
De repente, que beleza
Ter a vida assim ao seu dispor
Ela veria, saberia que doçura
Que delícia, que loucura
Como é lindo se morrer de amor

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Solitário - Augusto dos Anjos

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia

Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!

E eu saí, como quem tudo repele,
-- Velho caixão a carregar destroços --

Levando apenas na tumba carcaça

O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

Charles Chaplin - Mahatma Gandhi



A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
Charles Chaplin

Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.
Mahatma Gandhi

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Há uma diferença muito grande entre saber e acreditar que se sabe.
Saber é ciência. Acreditar que se sabe é ignorância.
Mas, cuidado!
Saber mal não é ciência. Saber mal pode ser muito pior que ignorar. Na verdade, sabe-se somente quando se sabe pouco, pois com o saber, cresce a dúvida, que é preciso idolatrar sempre!

Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.
((Poema da obra Sentimento do mundo)

"Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu nome ao livro. Ele nos revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Lamento no morro - Vinicius de Moraes

Não posso esquecer
O teu olhar
Longe dos olhos meus
Ai, o meu viver
É de esperar
Pra te dizer adeus
Mulher amada
Destino meu
É madrugada
Sereno dos meus olhos já correu

domingo, 13 de maio de 2012

Canção excêntrica - Cecília Meireles


Ando à procura de espaço
Para o desenho da vida.
Em números me embaraço
E perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
Em vez de abrir um compasso,
Projeto-me num abraço
E gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
É já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
Começa a achar um cansaço
Esta procura de espaço
Para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
Não me animo a um breve traço;
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.

A rua das rimas - Guilherme de Almeida


A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais, aventais nos portais, animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,
douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas;
e um passo, de espaço a espaço, no mormaço de aço laço e basso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde, o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que me mata...);
e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino, para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer uma mulher que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas,
correndo paralelamente, como a sorte indiferente de toda gente, para a frente,
para o infinito; mas uma rua que tem escrito um nome bonito, bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade, tranqüilidade: RUA DA FELICIDADE...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

43. Os Conscienciosos - Friedrich Nietzsche (Humano - Demasiado Humano)

Os Conscienciosos... --- É mais cômodo seguir a consciência do que a inteligência: pois ela tem em si, a cada malogro, uma desculpa e um conforto --- por isso há tantos conscienciosos e tão poucos inteligentes.

Dias de solidão - Alessandro Brito

E continuo conhecendo pessoas... e continuo vendo-as correrem seguindo uma mesma diretriz e dando de braços com a solidão. Realmente nada tenho para oferecer de coisas materiais, nada mesmo, mas sei como poucos amar, ser companheiro!

Vi muitos a minha volta passar todos esses anos na "corrida do ouro", e conquistaram o que pretendiam! Mas e agora? O que se faz com um "apartamento" ou um "carro" em uma noite fria de solidão tristemente sozinho? Vale lembrar que as vezes em meio a multidão nos sentimos mais sós, que em muitos outros momentos de particularidade. A minha corrida foi dar de braços com amor, com a vida, perdi e ganhei, vivi!

Nesses meus dias de solidão, respeito e entendo que ela é o que me restou de mais sincero, ao abraçar-me faz-se de verdade, por inteira. Compreendo que é mais quente do que qualquer outro abraço covarde! Abraços falsos e frios que relutam em viver, que esperam a vida lhe mostrar-lhes um caminho, pois lhes faltam coragem de tomar as rédias de suas vidas e arcarem com as consequências de suas escolhas (cada qual está onde quer estar, onde caminhou para estar, culpas a vida?)...
É preciso enxergar que as lições da vida são ensinadas nos momentos de sofrimento e que essas adversidades quando  sobrepujadas se tornam norte. Saradas as feridas (elas não duram pra sempre), comprrendidas as lições, apenas tornaremos a sofrer em uma nova atribulação (lição), passaremos a vida padecendo, perguntas demais para respostas de menos.

De braços com a solidão, minha melhor amante, vislumbro um novo amanhã, desejo uma novo abraço, mais quente que este, no qual "agora" estou envolto.

Assim como um assassino leva para sempre em seus ombros a alma daqueles de quem ele tirou a vida, eu levarei nos meus ombros mais um fracasso por não conseguir livrar um outro coração da solidão, dos braços do medo, de uma vida sem riscos, e seguindo caminho com a solidão companheira.

Charles Bukowski

Se vai tentar
siga em frente.

Senão, nem começe!

Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,

Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...

A desolação é o presente

O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,

Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Me dá a penúltima - João Bosco e Aldir Blanc


Eu gosto quando alvorece
porque parece que está anoitecendo
e gosto quando anoitece que só vendo
porque penso que alvorece
e então parece que eu pude
mais uma vez, outra noite,
reviver a juventude.
Todo boêmio é feliz
porque quanto mais triste
mais se ilude.
Esse é o segredo de quem,
como eu, vive na boemia:
colocar no mesmo barco
realidade e poesia.
Rindo da própria agonia,
vivendo em paz ou sem paz,
pra mim tanto faz
se é noite ou se é dia.

Frase - Michael Jordan


É Uma Sina - Paulo César Pinheiro


Aí, acho que é uma sina
Eu de amor sofrer
Sempre a mesma dor
Mas o que me alucina
È nem merecerTer um grande amor
Ai, é sempre o mesmo dissabor
Quando meu peito pega amor
Meu bem-querer me diz adeus
Mas se amar é padecer assim
Que fique a dor dentro de mim

Mas deixe alguém nos braços meus.

É por aqui - Walter Rosa


E como seria se não fosse ele? O Samba!

Sanfona Sentida - Luiz Gonzaga


Vem amor, vem cantar
Pois meus olhos
Ficam querendo chorar
Deixe a mágoa pra depois
O amor é mais importante a dois.
Chora sanfona sentida
Em meu peito gemendo
Vai machucando
E o meu peito de amor vai morrendo
Quanto mais chora
Me entrego todinho ao amor
E teu gemido disfarça
Em m´alma essa dor

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Menina avoada - Alessandro Brito

Ontem me preparei na estica
Fiz vinco na calça e na camisa
Para lhe recepcionar
Servi à mesa, um baquete
Enfeitei a casa feito um palacete
Mas você não regressou
Tantas outras mesas puseram
Tantos outros tiveram
Mas não souberam lhe amar
Feriram teu peito
Te deixaram sem jeito
E você se fechou
Não encontro caminho
Pra ganhar os carinhos
E te fazer sonhadora
Minha menina avoada
Não quer mais morada
Para o seu coração.

Só o tempo - Paulinho da viola

Largo a paixão
Nas horas em que me atrevo
E abro mão de desejos
Botando meus pés no chão
É só eu estar feliz
Acende uma ilusão
Quando percebe em meu rosto
As dores que não me fez


Ah, meu pobre coração
O amor é um segredo
E sempre chega em silêncio
Como a luz no amanhecer
Por isso eu deixo em aberto
Meu saldo de sentimentos
Sabendo que só o tempo
Ensina a gente a viver

João Nogueira - Morrendo Verso Em Verso 1972 (com letra)


Sem você, sou só metade
Sinto falta do seu beijo
Tenho boca, pouco falo
Tenho olhos, pouco vejo

Sambei na cidade com o meu cordão
Ganhei, na verdade, a consagração
Mas pra mim, foi só metade
Faltou-me a sua mão

Anda, amor, vê se dá pra voltar agora
A Lua derramou tristeza
E a brisa, que era uma beleza
Esfria o coração que chora

Tudo é mesmo só metade
Restou somente uma saudade
Depois que você foi embora

Vou morrendo verso em verso
Volta amor que é hora

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Mente ao meu coração - Paulinho da Viola


Mente ao meu coração
Que cansado de sofrer
Só deseja adormecer
Na palma da tua mão
Conta ao meu coração
Estória das crianças
Para que ele reviva
As velhas esperanças
Mente ao meu coração
Mentiras cor-de-rosa
Que as mentiras de amor
Não deixam cicatrizes
E tu és a mentira mais gostosa
De todas as mentiras que tu dizes

Amar - Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

"Bluebird" (Pássaro azul) - Charles Bukowski

Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumaça de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e você?

Defesa da alegria - Mario Benedetti

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas


Defender a alegria por princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
assim dos neutrais e dos neutrões
das infâmias doces
e dos graves diagnósticos


Defender a alegria como bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingénuos e também dos canalhas
da retórica e das paragens cardíacas
das endemias e das academias


Defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e homicidas
do descanso e do cansaço
e da obrigação de estar alegre


Defender a alegria como uma certeza
defendê-la do óxido e da ronha
da famigerada patina do tempo
do relento e do oportunismo
ou dos proxenetas do riso


Defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do Inverno
das maiúsculas e da morte
dos apelidos e dos lamentos
do azar
e também da alegria



Mario Benedetti, Lugares mal situados

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